Programas

Gustavo Carneiro
 

Gustavo Carneiro

Concluiu-se ontem a primeira fase da preparação do Programa Eleitoral do PCP para as eleições legislativas de 27 de Setembro. Uma fase marcada pela realização de debates e audições sobre temas variados importantes – como produção, emprego, educação, saúde, poder local, juventude, investigação, pobreza e desigualdades, política externa, etc. –, ouvindo militantes e simpatizantes comunistas e especialistas nas várias matérias em debate. Em todos eles, as intervenções proferidas constituem importantes documentos de análise da situação actual do País, desvendando as causas dos problemas e propondo soluções.

Como seria, aliás, de esperar, a comunicação social dominante achou por bem silenciar estas iniciativas do PCP, reduzindo-as a uma ou duas frases, desvirtuando o seu conteúdo, nuns casos; ou pura e simplesmente não aparecendo e nada dizendo sobre elas, noutros. Desta forma procuraram apagar o carácter profundamente participado e ligado à vida da construção do programa eleitoral do PCP, bem como do conteúdo das propostas ali enunciadas.

Assim podem continuar a tentar reduzir o «debate» eleitoral entre o PS, cujo programa, apresentado com honras de directos televisivos, volta a prometer o contrário do que em quatro anos foi feito; e do PSD, que entre ataques mal esgalhados ao PS tenta esconder as profundas semelhanças que une estes dois partidos – responsáveis, com a ajuda do CDS-PP, pela terrível situação que hoje se vive no País, de que os trabalhadores, os jovens, os reformados e muitas outras camadas sociais sentem, dolorosamente, na pele.

Uma coisa pode-se retirar do conteúdo destes debates: ao contrário dos outros, o PCP e a CDU não aceitam como inevitável o estado a que o País chegou. Na audição sobre produção nacional e aparelho produtivo, apropriadamente realizada na Península de Setúbal, os comunistas lembraram as responsabilidades dos sucessivos governos na destruição de importantes – e válidas – empresas industriais portuguesas, como a Lisnave, a Siderurgia Nacional e a Quimigal, naquela região, ou a Sorefame e a Mague, no distrito de Lisboa. Agora que tanto se fala das grandes obras públicas (como se da questão essencial se tratasse) sucede que, a avançarem, Portugal terá de comprar a empresas estrangeiras o que antes produzia com inegável qualidade. E isto nada tem a ver com inevitabilidades, mas com opções políticas.

Mas o Governo não aprendeu a lição e continua a entregar tudo o que o País tem ao capital privado. Veja-se a situação do Arsenal do Alfeite, que a partir de Setembro, vira SA, e dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, que passará a ser participado, em parte, por um grupo holandês. O ministro da Defesa já garantiu que o Estado continuará a deter a maioria do capital. Mas fazendo exercícios de memória, todos nos lembraremos de outras «empresarializações» de unidades industriais nacionais, que foram apenas um primeiro passo para a sua completa privatização e, em muitos casos, destruição.

Terminada que está esta primeira fase, entra-se agora noutra: a redacção do programa, incluindo nele o essencial desta rica e frutuosa discussão. A terceira fase será levá-lo o mais longe possível, aos trabalhadores e ao povo. Certos de que ninguém o fará por nós.