O ódio

Gustavo Carneiro
 

Gustavo Carneiro

José Sócrates anda irritado com os assobios e apupos com que é brindado, juntamente com candidatos, ministros e dirigentes do seu partido, onde quer que vão. A culpa, como é evidente, vai inteirinha para esses comunistas e sindicalistas, que andam pelo país a disseminar o «ódio» contra o PS de que falou Vitalino Canas no 1.º de Maio...
Realmente, só mesmo por «ódio» se pode compreender a revolta dos trabalhadores com a presença de Vital Moreira na manifestação do 1.º de Maio da CGTP-IN. Ou alguém acredita que este sentimento pode vir do desemprego que não pára de aumentar, com muitos dos desempregados sem terem direito ao respectivo subsídio, por recusa do PS em alterar as regras para a sua atribuição? Ou mesmo da precariedade, que atinge já mais de 1 milhão e 200 mil trabalhadores, sobretudo jovens, e que o Governo resolveu alargar e legalizar com a revisão do Código do Trabalho? Certamente que assobios e apupos não surgiram como reacção à complacência e cumplicidade com que o Governo presencia os abusos do recurso ao lay-off, a sobrecarga dos horários, os cortes nos salários, ou mesmo o encerramento de empresas que durante anos receberam milhões de euros de fundos públicos e comunitários... Desculpas de mau pagador, evidentemente.
Também os professores mostraram nestes quatro anos todo o seu «ódio» por José Sócrates e pela ministra da Educação. Isto por mais que digam que as manifestações, mais ou menos monumentais, mais ou menos espontâneas, foram uma forma de protesto contra a política educativa do Governo, que desorganiza e pretende dividir a carreira docente em duas, que cria um exame para o ingresso na profissão e enreda os professores num complexo e inútil processo de avaliação...
E os estudantes do secundário, que recebem a ministra com protestos? Todos comunistas e sindicalistas! É «ódio», seguramente, e não qualquer revolta relacionada com o Estatuto do Aluno, um verdadeiro código penal nas escolas, com o Regime de Faltas ou com as miseráveis condições de muitas das escolas do País...
E o que dizer de uma reunião do Conselho de Ministros em Guimarães ser recebida com uma concentração denunciando que aquela cidade minhota «está mais pobre»? O que é isto senão «ódio»? Só porque naquele concelho e naquela região os salários são muito inferior à média nacional e o desemprego superior?... Como se isto justificasse tamanho «ódio»... Então e as populações de Anadia e Vouzela, que assobiaram o primeiro-ministro só porque o seu Governo encerrou as urgências hospitalares?... Então e...
Só há uma coisa que não bate certo nisto tudo. Os comunistas e sindicalistas estão em todo o lado...