Baralhar e dar de novo

Gustavo Carneiro
 

Gustavo Carneiro

Perita na arte de baralhar e dar de novo, vem agora a comunicação social divulgar a ideia de que são mínimas as diferenças entre o PCP e o BE. A artimanha começou no dia do debate televisivo entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã e pouco importa se nega o que até então diziam – que o PCP estava antiquado e preso a concepções arcaicas e que o BE, por outro lado, defendia as verdadeiras causas da esquerda moderna.

Segundo os comentadores que a partir do minuto zero após o final desse debate começaram a arremessar esta tese, as propostas dos dois partidos para as eleições legislativas, sobretudo nos aspectos económicos e sociais, não apresentavam diferenças substanciais.

A ser verdade, só resta salientar a evolução política do BE em direcção às propostas que o PCP há muito vem defendendo. Mas algo se esconde por trás desta reviravolta mediática.

Recuemos um pouco, alguns meses, e temos outro exemplo desta mistificação, com outros actores. Nas ruas, centenas de milhares de trabalhadores contestavam a política do Governo do PS, nomeadamente o Código do Trabalho, a «reforma» da Segurança Social, os encerramentos de centros de saúde, extensões e maternidades, o novo Estatuto da Carreira Docente, e exigiam uma nova política. Os militantes comunistas, nas empresas e nas localidades, há muito que desempenhavam um papel ímpar na mobilização de massas – denunciando as medidas do Governo, propondo outro caminho, organizando, dando confiança!

Na Assembleia da República, onde os deputados do PCP faziam o seu papel de tribunos daqueles que, nas ruas, lutavam por uma vida melhor, o primeiro-ministro José Sócrates acusava o PCP e o BE de estarem por detrás da contestação, como se os trabalhadores fossem seres acéfalos e manipuláveis (e como se não houvesse razões de sobra para protestar...).

Mas incluir o BE nesta acusação – tradicionalmente dirigida ao PCP – foi um favorzinho que o Primeiro-ministro fez, passando para a opinião pública a ideia de que o BE tem aquilo que manifestamente não tem: influência social e capacidade de mobilização. Que melhor prenda para o partido de Louçã, num momento em que a base de apoio do PS se desmoronava e aumentava o número dos descontentes à esquerda do PS?

Agora é Louçã a apanhar esta onda, procurando fazer acreditar que o BE é aquilo que não é - e nunca foi. Numa entrevista recente à Visão assegurava que os comícios de verão do Bloco tinham reunido entre 35 a 50 mil pessoas (que ninguém viu e nenhuma televisão mostrou – e todos sabemos como a TV é tão lesta a mostrar, multiplicando, tudo o que o Bloco faz). Que outro Partido seria capaz de fazer tal coisa?, questionou Louçã.

Agora surge esta suposta identidade de propostas entre o PCP e o BE, difundida pela comunicação social dominante, propriedade sabemos bem de quem. Desta forma se procura confundir um conjunto de propostas avulsas com um projecto estruturado, coerente e firmado ao longo de anos de ruptura com a política de direita e construção de uma verdadeira política de esquerda. É a melhor cartada que têm para tentar evitar o crescimento eleitoral da CDU e a afirmação do projecto do PCP.

Mas não serão bem sucedidos. Porque os trabalhadores e o povo conhecem os comunistas e os activistas da CDU que, no dia-a-dia, estão ao seu lado na luta contra a exploração e por uma vida melhor. Que são os mesmos que, a troco de nada para si próprios, dedicam o melhor das suas capacidades à luta e à resistência e as suas férias, ou parte delas, à construção da Festa do Avante!. Dedicação que é a melhor garantia de empenho sincero na construção de um Portugal e de um mundo onde valha a pena viver.