André Levy

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Pouco se ouve falar sobre isso na comunicação social. O Governo, tirando momentos de propaganda, remete esse facto ao silêncio. Embora Portugal não tenha declarado oficialmente guerra a nenhum país e, segundo a nossa Constituição da República, Portugal se reger pela «solução pacífica dos conflitos internacionais [e pela] não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados», o nosso país está envolvido numa guerra imperial. Exceptuando as suas famílias e amigos, e os mais atentos às questões de paz e do envolvimento Português em manobras militares imperialistas, quase ninguém refere que existem tropas militares portuguesas na guerra de ocupação do Afeganistão.

Respondendo ao apelo do Presidente dos EUA, Barack Obama, durante a cimeira da NATO do passado Abril – cimeira que assinalou os 60 anos deste bloco imperialista (cuja dissolução, já agora, é preconizada pela nossa Constituição) – o primeiro-ministro Sócrates servilmente relevou a intenção de reforçar a presença Portuguesa no Afeganistão. Portugal tem mantido aí um contingente que chegou a atingir os 300 militares. De momento, tem aí deslocados 87 militares, mas o Conselho Superior de Defesa Nacional já havia decidido em Dezembro do ano passado reforçar o contingente. Assim, em Julho partem mais 56 militares participar na ocupação imperial do Afeganistão, acompanhados de um Hércules C-130.

Apesar do seu contingente relativamente pequeno – face ao de outros países como os EUA, GB ou Alemanha – Portugal também já teve a sua conta de feridos e mortos em combate, em particular o primeiro-sargento, que integrava um destacamento que protegia o aeroporto de Cabul. Independente da quantidade de militares portugueses, a sua mera presença torna o nosso país cúmplice dos inúmeros crimes que estão a ser cometidos contra a povo Afegão e participante de uma ocupação imperialista que, à semelhança da ocupação do Iraque, não tem solução militar.

Há quem justifique a nossa presença no Afeganistão como integrando a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) das Nações Unidas, e portanto mandatada por esse órgão e ao abrigo do direito internacional. Mas há que recordar a ordem de eventos. A invasão do Afeganistão há muito que constava nos planos militares dos EUA pela sua importância geo-estratégica, como revelou Zbigniew Brzezinski, conselheiro do Presidente Carter. Os EUA e a GB não perderam tempo após os ataques do Onze de Setembro. Não esperaram pelas NU, e aproveitaram o braço armado da NATO para logo em 7 de Outubro invadirem o Afeganistão. Só a 20 de Dezembro de 2001, já consumada a ocupação, é que o Conselho de Segurança das NU aprovaram a missão da ISAF. Mas é a NATO que lidera as operações militares no terreno. É portanto significativo que Sócrates tenha afirmado o compromisso português na cimeira da NATO. Por contrário, o ministro dos negócios estrangeiros Espanhol afirmou, em Novembro de 2008, que a Espanha não irá reforçar a sua presença no Afeganistão. Depois da morte de 10 soldados Franceses, em Agosto, o 27th batalhão recusou-se a deslocar ao território. Há países da NATO e da UE que se recusam a reforçar a sua participação. Mas Sócrates, qual bom súbdito, orgulha-se em brindar Obama com o reforço da presença portuguesa.

No âmbito das eleições europeias, o silenciamento do envolvimento militar de Portugal nas ambições das grandes potencias da NATO tem uma razão mais grave, pois contribui para ocultar a componente militarista do actual rumo de “construção europeia”, como está bem patente no Tratado de Lisboa, com a criação da Agência Europeia de Defesa. Portugal, enquanto membro da UE, poderá ver-se assim pressionado a participar num número crescente de aventuras imperiais, que em nada servem os interesses nacionais e colocarão os nossos militares em risco.


André Levy

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No Congresso do PS, Sócrates referiu-se à crise financeira mundial como se o céu nos tivesse caído na cabeça. Nós que estávamos tão bem, com o défice orçamental abaixo dos 3%, tão bem comportadinhos e responsáveis, logo nos havia de acontecer tal tragédia. Sócrates tem insistindo nesta tecla, colocando o ónus da actual crise económica em Portugal nos efeitos da crise mundial, desresponsabilizando o seu governo e os anteriores governos do Bloco de Direita (PS, PSD e CDS-PP) na destruição da nossa economia produtiva e na promoção do sector financeiro especulativo. Várias vezes o PCP chamou a atenção para que uma crise estava instalada em Portugal muito antes do rebentar da crise global, mas Sócrates persistiu em insistir que Portugal era um mar de rosas, até sermos infectados por um mal alheio. Dada a sua arrogância e autismo, continuará a assobiar para o lado após a própria Comissão Europeia, nas previsões económicas para 2009-2010 , fazer referência a um declínio económico em Portugal “entre a segunda metade de 2007 e a primeira metade de 2008”, precisamente antes da crise financeira nos EUA começar a repercutir nas finanças e economias mundiais. O relatório faz previsões nada promissoras para Portugal: queda do PIB, nos níveis de investimento privado e na taxa de exportação; aumento histórico das taxas de desemprego (podendo atingir os 10%); e redução dos salários nominais. 
Mas Sócrates e o PS têm toda a confiança na União Europeia. Parte da sua campanha de rua baseia-se em recordar aos portugueses como o PS esteve presente na adesão à então CEE, na adesão ao Euro e na elaboração do Tratado de Lisboa. A primeira versão do cartaz com foto do Soares indicava erroneamente o ano de adesão como sendo 1986, mas essa “lamentável gralha” foi atribuída à gráfica: o PS não comete erros. Claro que os cartazes marcam os eventos. Cabe a quem os vê lê-los como eventos positivos ou negativos. A adesão à CEE trouxe-nos o quê exactamente? A imposição de políticas comuns que destruíram a nossa agricultura e pescas, e logo a nossa soberania alimentar. Veio dinheiro para muitos cursos de formação de fachada e estradas, que funcionam mais como artérias de importação de produtos estrangeiros do que veias de exportação do nosso sector produtivo cada vez mais reduzido. O cartaz com Guterres segurando uma moeda de um euro recorda-nos o momento em que Portugal perdeu a sua soberania monetária e financeira. O cartaz com Sócrates recorda-nos como o PS se rendeu totalmente ao neo-liberalismo (que agora demagogicamente critica), embora omita como o Tratado de Lisboa não foi referendado, como o PS havia prometido nas eleições legislativas anteriores. Todos revelam passos de capitulação da nossa soberania nacional, um valor que obviamente o PS não preza, como é tão bem expresso no lema “Nós, Europeus”. Cabe agora aos eleitores dizer que nós, Portugueses queremos um Portugal soberano.

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