Seria risível, não fosse revoltante, a campanha de falsidades que os responsáveis pela situação da juventude portuguesa levam agora a cabo para as eleições europeias. Pelas ruas, os grandes cartazes de PS e PSD tudo fazem para ocultar o que de facto está em jogo nestas eleições, como aliás em qualquer passo no que ao processo de construção europeia diz respeito.
Não é de agora e certamente não se ficará por aqui o jogo de ilusões que PS e PSD tentam fazer com o conceito e a amplitude deste projecto europeu que o directório federalista e neo-liberal nos vai impondo sem que sequer nos permita, aos jovens e a todos os portugueses, abordar ou participar nas decisões centrais desse processo. Bem tentam eles agora reduzir as políticas europeias à mobilidade de cidadãos, ao programa erasmus, e a fundos europeus. De uma assentada, limpam-se e branqueiam-se as verdadeiras implicações deste projecto de união europeia e traz-se o estafado argumento da “modernidade”. PS e PSD, cada um mais “europeu” que o outro, todos alinham pela mesma orientação – e prova disso é o comportamento indistinto que praticam, quer em Portugal, quer no Parlamento Europeu – e querem agora vender à juventude portuguesa as ilusões que já no passado nos venderam. Para eles, importa esconder a política de precariedade laboral, de baixos salários, de privatização de serviços, de elitização do conhecimento, de mercantilização da cultura e do desporto; importa esconder e branquear a política comum de pescas, a política agrícola comum, a directiva-quadro da água (que aponta a sua privatização), a criação de um mercado especulativo de licenças de emissão de gases com efeito estufa, e acima de tudo, esconder e branquear a natureza neo-liberal desta união Europeia que coloca acima de tudo, os interesses dos grandes grupos económicos e das grandes potências europeias.
Importa reduzir a Europa àquilo que nem sequer é. Falar-se de coisas bonitas, de balofos investimentos de super-estrutura, como se Europa fosse TGV, Erasmus ou mobilidade transfonteiriça. Chega o Vital Moreira ao ridículo de afirmar que a União Europeia é o garante da água potável nas nossas torneiras (!!!), tal é a disparatada vontade de esconder o que é esta Europa que quase acreditei que antes da União Europeia em Portugal se bebia água imprópria.
É caso para perguntar se seria necessária tanta coisa (um parlamento, uma comissão, um conselho, e tantos outros organismos e instituições) apenas para organizar programas de mobilidade estudantil, que por acaso até existem desde a Idade Média em Universidades Europeias, para assegurar mobilidade transfonteiriça. Obviamente que PS e PSD tudo fazem para esconder as grandes questões europeias, as que à juventude dizem directamente respeito e todas no geral, pois elas são as políticas centrais, os eixos e a raíz de uma política estafada, falhada, de uma política que redunda no retrocesso civilizacional, na retirada dos direitos dos jovens, na crise económica e no seu agravamento. Mas é também uma política que provoca diariamente mais e mais barreiras À participação juvenil, que degrada as condições e a qualidade de vida da juventude, que substitui a verdadeira participação dos jovens pela participação de fachada, sem efeitos, sem consequências, que aposta forte da desvalorização do trabalho e da educação superior dos jovens e que concebe os jovens como a mais vulnerável das camadas da população e, como tal, a mais maleável e explorável do ponto de vista dos grandes interesses económicos. A juventude, nesta europa, pesem as bonitas frases dos cartazes, as ilusões criadas e as atoardas de campanha, não representa mais do que aquilo que representa para as elites governantes em Portugal: carne para canhão.
É, por isso mesmo, que urge uma ruptura democrática de esquerda, que centre as políticas nacionais e europeias na valorização do trabalho e da educação, que apoie os jovens nessa fase crucial e particularmente instável das suas vidas que é o início da sua autonomia, a criação da sua própria família. É preciso uma política que assegure a gratuitidade da educação para todos, que garanta a todos os mais elevados graus do conhecimento em função das suas capacidades e não da sua condição económica. Uma política estratégica de desenvolvimento que atenda às reais necessidades dos jovens e do país, que não sacrifiquem tudo ao sagrado mercado que nos enfiou neste beco estreito. Uma política de verdadeira participação juvenil, de progresso e de consolidação e conquista de direitos, partindo do avançado conteúdo da Constituição da República Portuguesa e da sua absoluta superioridade e insubmissão a qualquer projecto supranacional como o que se plasma no famigerado Tratado de Lisboa. Essa política, essa europa, não brotará espontaneamente, antes será construída com a luta dos jovens e trabalhadores por toda a Europa. E a luta em Portugal, e neste preciso momento, faz-se com o voto na CDU.