Connosco, a luta de classes será sempre a favor dos mais pobres

Regina Marques
 

Regina Marques

Esteve recentemente em Portugal, um eminente economista americano - Joseph Stiglitz. Não disse nada que, entre nós comunistas, não estivesse já dito e equacionado. Mas, se ao nosso discurso e à nossa análise, os jornais, os comentadores, os especialistas fazem "ouvidos de mercador", não se cansando de repetir que não dizemos nada de novo e estamos ultrapassados, pelo menos alguns dos reparos deste Nobel da Economia merecem uma observação nossa, na medida em que podem ser um argumento de autoridade contra a ideia da extrema competência e grande notabilidade de quem nos governa e torna a pedir a maioria para governar. Há observações de Stiglitz que são também um contra-argumento sobre aquela peregrina ideia de que nós em Portugal temos uma crise, que vem de longe, vem doutro mundo, e que cá dentro não há responsáveis e que só há vítimas.
Segundo o Publico de 9 de Maio, jornal que muito esporadicamente releva um ou outro apontamento analítico dos comunistas, Joseph Stiglitz acusou o sistema financeiro norte-americano, adoptado pelos governos americano e da Europa, de ser o grande responsável pela crise, acrescentando que "a crise é o resultado da luta de classes contra os mais pobres". Através do facilitismo do crédito e da desregulação do mercado financeiro, o capital financeiro, com o apoio político dos governos, espoliou o dinheiro que restava aos mais pobres entre os pobres, sem que tal revertesse para o investimento produtivo gerador de riqueza. Stiglitz considerou inadequadas as medidas que estão a ser tomadas e preconizou políticas diferentes, defendeu a realização de investimento público e augurou que "a doutrina de direita sobre a forma como funciona a economia de mercado falhou completamente".
Particularmente em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu, não deixa de ser importante avivar a leitura que sempre fizemos desta dramática crise que encerra empresas em cascata, resultado de um crime económico sem paralelo. Um crime económico que destruiu a indústria nacional, condenou a agricultura e as pescas, não criou alternativas de gestação de riqueza nacional, e lançou no desemprego e na exclusão milhares de trabalhadores, homens e mulheres, com famílias constituídas, famílias inteiras que se vêm desprovidas dos mais elementares direitos e meios autónomos de subsistência. Um crime que obrigou o País a perder a própria independência alimentar e nos remete de novo para a emigração e para novas formas de discriminação e humilhação.
Quanto a nós, não é descabido o recurso à autoridade deste Nobel para provar mais uma vez a seriedade dos nossos argumentos e a actualidade da nossa doutrina, a coerência e a pertinência dos olhares que fazemos sobre a sociedade e a vida. Não é descabido reclamar a justeza dos nossos ideais e dos modelos de análise que usamos agora que estamos em cima de uma colossal crise social, gerada pela ganância desmedida que o sistema capitalista nos impôs, e que aprofundou abissalmente as desigualdades e as assimetrias.
Sendo certo que as relações económicas estão na base e são o cimento das relações humanas, e que só se houver justiça e direitos económicos poderá haver justiça social, cultural e humana, é bom que muitos cientistas sociais mostrem que afinal os comunistas não estão sós e que a sua análise não só é útil para prevenir as crises como é necessária para as ajudar a solucionar. Como sabíamos a crise foi gerada por algumas das mais "notáveis cabeças" que muito "competentemente" desenham o mapa dos destinos de milhões de pessoas. São os mesmos "sábios que elaboram e aprovam os planos e as cartas políticas estratégicas para Portugal e para os restantes países da Europa, traçam objectivos para os países mais pobres, com os efeitos que estão à vista.
Num tempo em que a linguagem usada provoca uma clamorosa confusão, importa mostrar que também na linguagem somos diferentes. Na política, como na vida, é pela linguagem que nos damos a conhecer. É por isso que no plano eleitoral dizer SIM à CDU é mostrar inequivocamente outra competência e outra notoriedade. Repescando um dos sentidos das palavras de Stiglitz, podemos dizer que com o voto acentuaremos a luta de classes. Sim, mas connosco será sempre "a favor dos mais pobres".