A grande derrota de Sócrates e do PS nas eleições europeias abre perspectivas para que tal derrota seja repetida nas próximas batalhas eleitorais. O descontentamento face às políticas seguidas durante estes anos manifestou-se de forma contundente.
Mesmo aqueles que não acreditavam no efeito do voto nas eleições europeias, para a alteração das coisas terão ficado convencidos que os resultados eleitorais, para qualquer eleição, são acima de tudo um escrutínio às políticas nacionais. Ficou claro logo na noite dos resultados que até o estilo se alterou. Alterou-se o estilo mas acima de tudo as exigências. Reparámos todos no mutismo de alguns e na arrogância de outros. O peso que se deu ao estilo, com a sonora controvérsia para saber quem é o ou a mais arrogante, parece ser a questão mais importante da actualidade mediática. De novo, e em torno de qualquer acessório, se pretende estabelecer a alternância PS ou PSD. Mas na verdade, o que reparámos todos foi como subiu o tom dos políticos da direita na exigência de travar os investimentos públicos, desde o TGV à ponte Barreiro-Chelas, ao Aeroporto e por aí fora…
Para nós, que lutámos pela regionalização, para nós que entendemos que o desenvolvimento do País passa pela criação de estruturas públicas dinâmicas e empenhadas nas regiões que mobilizem o poder local e os trabalhadores das regiões, para nós que perspectivamos a política na região de Setúbal voltada para o País, a região mais capaz de assegurar trabalho e trabalho qualificado, para nós, diremos, esta deverá ser a questão fundamental. De facto sem investimento público, e sem o domínio dessas alavancas ficaremos eternamente à mercê dos privados, que são quem menos se interessa se os seus lucros são arrecadados nas fábricas de Palmela ou da Coreia, ou de outra qualquer parte do mundo.

Não há nenhum sector que não esteja a ser atingido pelas ditas reformas do PS que não traduzem senão as encomendas dos sectores mais conservadores e as concepções mais retrógradas que, entretanto, são dominantes. Com os slogans desgastados de que somos todos responsáveis apelando cinicamente à responsabilização dos indivíduos e da sua livre iniciativa, o que pretendem é a destruição do sentido de Estado responsável, do sentido nobre da política para resolver com sentido universal o que é de todos. Na educação a situação é paradigmática desse Estado autoritário que controla e se demite das suas funções. As escolas não funcionam democraticamente, nem com a apregoada autonomia científica ou pedagógica, a autoridade democrática dos professores deixou de ter sentido, os estudantes estão endividados para poderem estudar, grande parte não consegue pagar as propinas, enquanto em nome da crise os mais variados desvarios se estão a cometer debaixo dos olhares negligentes dos poderes instituídos ou até com a sua conivência e cumplicidade.

A política que queremos e de que precisamos não é a política de cedência à direita que conhecemos e derrotámos. Essa politica de direita tem de continuar a ser combatida nas próximas eleições. Conseguido que foi pela direita esse sentido da desvalorização da política, para melhor reinar, ficou claro nas eleições europeias que nas zonas onde a politização é séria, onde o PCP tem maior implantação, onde se luta por direitos de há longas décadas, onde se construíram as mais belas e promissoras conquistas de Abril, a Reforma Agrária e as Nacionalizações onde as mulheres e os trabalhadores, vivenciaram pela primeira vez melhoria de salários e maior qualidade de vida, aí as pessoas votaram no PCP. Votaram os trabalhadores, os jovens. Votaram as mulheres trabalhadoras e não só, também as donas de casa e as reformadas. De novo, com insistência, o que importa é ter gente do PCP no poder, gente que trabalha e faz obra, com abnegação, sentido cívico e competência.


José Casanova

José Casanova
Considerando:
  •      que há 33 anos, o Governo PS/Mário Soares, mandando às urtigas as promessas feitas em campanha eleitoral, deu o primeiro e decisivo passo na definição e aplicação de uma política que tinha como objectivo essencial liquidar as conquistas da Revolução de Abril e entregar o País, pronto a explorar, ao grande capital nacional e internacional;

  •       que, para esse projecto, Mário Soares contou desde logo com o apoio declarado – e entusiástico - do PSD e do CDS-PP;

  •       que de então para cá, todos os governos e governantes praticaram essa política de direita e todos deram passos em frente na concretização do objectivo traçado por Mário Soares/PS;

  •       que Cavaco Silva/PSD, após uma década de governação devastadora – que, entre outros atropelos democráticos e malfeitorias, desferiu uma brutal e ilegal machadada na Constituição da República Portuguesa – passou o testemunho a Guterres, o qual prosseguiu sistematicamente a destruição de Abril, após o que passou a pasta aos colegas seguintes, Barroso/Santana/Portas, todos alérgicos a tudo o que cheire a Abril, e que, cumprida a missão, escancararam as portas ao alérgico de serviço: este Sócrates do nosso descontentamento;

  •       que todos estes governos e governantes se esmeraram na aplicação dessa mesma política – iniciada, insisto, pelo pai da política de direita, em 1976 – de tal modo que transformaram o regime democrático de Abril num regime de política única praticada por um partido único bicéfalo (de vez em quando tricéfalo);

  •       que a política de direita por todos eles praticada tem como vítimas exclusivas os trabalhadores e o povo, ou seja, a imensa maioria dos portugueses, e tem como beneficiários exclusivos os grandes grupos económicos e financeiros, ou seja, a imensa minoria dos portugueses;

  •       que todos estes governos e governantes sustentaram a sua governação numa prática de desrespeito e violação sistemática da Constituição da República Portuguesa e se assumiram como governos fora da Lei Fundamental do País;

  •       que, como os factos demonstram, PS e PSD (de vez em quando com o CDS/PP) foram os únicos partidos que estiveram no governo nos últimos 33 anos, e são, portanto, os únicos a quem há que pedir contas pela dramática situação actual do País;

  •       que com a aproximação das eleições legislativas os referidos partidos se apresentam, uma vez mais, desavergonhadamente disfarçados de «alternativa» um ao outro;

  •       que, com esse disfarce o que pretendem é, uma vez mais, ludibriar os eleitores e criar condições para darem seguimento à política que desde há 33 anos vêm praticando;

  •       que, por tudo isto, é preciso, imperioso e urgente dizer «basta!», pondo termo a esta sucessão de governos todos iguais e todos nefastos para os trabalhadores, o povo e o País,
Proponho:
  • que nas próximas eleições para a Assembleia da República, o eleitorado lhes dê o castigo que merecem;

  • que esse castigo se traduza em, ao mesmo tempo, correr com o Governo José Sócrates/PS e impedir que um Governo Manuela Ferreira Leite/PSD continue a devastação iniciada há 33 anos.

 



Gustavo Carneiro

Gustavo Carneiro
Mal se tinham realizado as eleições para o Parlamento Europeu e já a CDU iniciava a preparação da batalha das legislativas. Apenas dois dias depois, o Comité Central do PCP reunia e, para além da análise dos resultados das europeias, aprovava uma resolução contendo as principais linhas do Programa Eleitoral que apresentará aos portugueses. Nesse documento, propõe-se uma visão totalmente oposta àquela que tem estado por detrás da política de direita praticada há mais de 30 anos no nosso País, à vez ou em simultâneo, pelo PS, PSD e CDS-PP.

Ao invés dos «sacrifícios para todos», que na prática são  para a maioria (enquanto que uma minoria vê os seus lucros engodarem mês após mês e ano após ano), defende-se a «valorização do trabalho e dos trabalhadores». O que significa, entre outras coisas, aumento dos salários, pleno emprego, trabalho com direitos. Esta medida, para além da dimensão da justiça social, tem uma outra, económica. Como afirma Jerónimo de Sousa na edição de hoje do Avante!, as soluções de curto prazo para o combate aos efeitos da crise passam pelo desenvolvimento do mercado interno e pelo aumento do consumo das massas.

Ao contrário do que tem sido feito até aqui, em que grandes empresas industriais têm sido sucessivamente encerradas ou privatizadas aos bocados – o PCP propõe a defesa do aparelho produtivo e da produção nacional. Para que não continuemos a comprar lá fora o que ainda ontem produzíamos, e com inegável qualidade, em Portugal. São os casos da Mague, daSorefame, da Lisnave, da Quimigal, da Siderurgia Nacional... E depois falam do défice...

Mas não é tudo. Rejeitando a tese das teses do capitalismo, segundo a qual o Estado não tem vocação de produtor e de gestor, os comunistas propõem a assunção, por parte do Estado, dos sectores estratégicos da economia nacional – banca, seguros, energia, telecomunicações, transportes. Assim se evitaria os milhões e milhões de lucros que as grandes empresas (quase todas ex-empresas públicas) destes sectores geram e que ficam nos bolsos dos seus accionistas. E se poderia colocar também os proveitos gerados ao serviço do desenvolvimento do País, nomeadamente apoiando o aparelho produtivo nacional.

Certamente que a comunicação social dominante – e dominada pelos grandes grupos económicos, promotores e defensores da política de direita – tentará esconder estas propostas, como o fez no caso da declaração programática das eleições para o Parlamento Europeu. Caso não consiga, não faltarão os comentadores e os analistas a considerá-las desactualizadas eimpraticáveis. E ainda não compatíveis com a modernidade ou com a economia globalizada. Aqui concordo. Não são mesmo. Mas são justas. Então, em vez de mudarmos as propostas, mudemos a modernidade.


José Lourenço

José Lourenço
Passaram pouco mais de 15 dias das eleições para o Parlamento Europeu e não há debate que se trave sobre a actualidade política, na rádio ou na televisão, em que os comentadores políticos habituais, não refiram a importância dos resultados das próximas eleições legislativas produzirem a uma solução governativa estável e que o que estará em causa nessas eleições será a escolha entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates.

Procurando ignorar os resultados das eleições do passado dia 7 de Junho e recusando-se a ler aquilo que esses resultados inequivocamente exprimem, isto é, a derrota das políticas de direita seguidas por este Governo nos últimos 4 anos e três meses, os vários comentadores pagos a peso de ouro, procuram desde já fazer o seu trabalho de condicionamento do sentido de voto dos portugueses.

Dado o estado lastimoso do nosso país em termos económicos e sociais, a tarefa destes chamados opinion makers não é nada fácil, mas não tenhamos duvidas muitos portugueses influenciados por estes cantos de sereia irão ser tentados a mudar o seu sentido de voto e a votar num dos chamados partido do centrão – PS e PSD -.

A todos esses para quem a linguagem da estabilidade e governabilidade do país possa ser sedutora, é fundamental lembrar o que foram os últimos 4 anos de maioria absoluta PS e se essa maioria e estabilidade governativa teve alguma correspondência no dia a dia dos portugueses.

Tivemos as maiores manifestações de que há memória, com cem mil e duzentos mil trabalhadores na rua convocados pela CGTP, tivemos as maiores manifestações dos professores, com cento e cinquenta mil professores na rua, tivemos manifestações de funcionários públicos, de reformados, de agricultores, de pescadores, de polícias, de estudantes e de enfermeiros, tivemos por todo o país manifestações das populações contra o encerramento de escolas e de centros de saúde, tivemos uma greve geral e tivemos mesmo o bloqueio de estradas por parte de camionistas, lutando contra o preço exagerado dos combustíveis. Em suma é difícil encontrar período da nossa história recente, em que apesar da maioria absoluta de um partido, o Governo daí resultante tenha criado maior instabilidade social.

Por tudo isto, não podemos deixar de chamar à atenção dos portugueses de que nas próximas eleições legislativas, o que está em causa é a eleição de 230 deputados e não a eleição de qualquer Primeiro-Ministro e de que, serão estes deputados que terão de formar as maiorias necessárias à viabilização do Governo saído a partir dos resultados expressos nas urnas e de acordo com o programa de Governo apresentado na Assembleia da República.

Não há maiorias parlamentares por mais absolutas que elas sejam que garantam a estabilidade governativa, se essas maiorias há imagem e semelhança da actual, servirem para atacar os direitos e conquistas dos trabalhadores e do povo.

Percebe-se o desespero dos banqueiros para quem sendo indiferente que a maioria seja do PS ou do PSD, ela terá no entanto que ser absoluta, pois só assim um partido ou outro, defenderá sem vacilar os seus interesses, mas já temos muito dificuldade em engolir a possibilidade de centenas de milhares de trabalhadores poderem uma vez mais cair no canto destas velhas sereias.

Compete-nos a nós com as armas que temos e que não podemos nem devemos subestimar, lembrar aos mais esquecidos o que tem sido a nossa história recente e impedir através do seu esclarecimento que contribuam para a estabilidade governativa, que nos últimos trinta e três anos tem procurado destruir aquilo que a revolução criou em cerca de ano e meio.

É uma tarefa árdua mas é muito aliciante!

Os resultados das eleições europeias marcaram um passo importante no caminho para uma ruptura com a política de direita e – por muito que os “comentadores oficiais” se resignem a admitir – uma vitória significativa da CDU: mais votos, mais pontos percentuais, subida de votação em todos os distritos, e, por pouco, não foi eleito um terceiro eurodeputado da CDU. E a CDU foi a força política mais votada em vários conselhos e distritos, cobrindo uma larga porção do território nacional. Estes resultados devem fomentar grandes expectativas para as próximas duas rondas eleitorais onde, contrariamente às eleições europeias, o escrutínio nacional se reparte por vários círculos regionais. Deve incutir, nos militantes das organizações que compõem a CDU e nos muitos independentes que a apoiam, um espírito de esperança na mudança e renovadas forças para as batalhas que se seguem.


Uma das batalhas a travar é a batalha contra a abstenção, mas também contra o voto nulo e em branco. É de assinalar que os votos nulos foram nestas eleições quase o dobro que nas eleições europeias de 2004 (4,63% vs. 2.57%). O voto nulo reflecte uma postura distinta da abstenção. Tratam-se de eleitores que participam no processo democrático, o respeitam e valorizam, mas que não encontraram entre as treze (!) opções no boletim de voto uma única que lhes merece-se a cruz de confiança. Nem mesmo entre os novos partidos, auto-designados “movimentos”, que pretenderam tirar proveito do sentimento que “os partidos são todos os mesmos”. Há uma importante batalha ideológica a travar entre esta camada do eleitorado, pois os factos demonstram que os partidos não são todos iguais. As forças que integram a CDU caracterizam-se por uma capacidade de trabalho legislativo que se destaca das demais forças e pela sua contínua presença junto das populações, não remetendo esse contacto para os períodos eleitorais. Distinguem-se de todas as restantes forças pelo facto dos deputados por si eleitos não auferirem qualquer benefício salarial pelo exercício da tarefa com que foram incumbidos. Não estão “à caça de tacho”, nem à procura de protagonismo. Só na CDU os trabalhadores e as populações encontram uma força que coloca os seus interesses acima de quaisquer objectivos partidários ou interesses económicos.


A crise económica e social que vivemos coloca em evidência a luta de classes. Só não a vê quem não quer. Uma luta onde não há espectadores, e onde o árbitro está comprado. Uma luta onde há que tomar partido. Não há forma de evitá-lo. A abstenção, o voto em branco ou nulo, não é um “voto de protesto”, mas um apoio “aos mesmos do costume”. É desse lado que querem estar? Há que convencer cada eleitor que o seu voto pode contar para a mudança, sendo expresso na CDU. Aos que respondem, no âmbito das legislativas, que “vocês não vão lá”, há que recordar que essas eleições não são para eleger o governo, mas a Assembleia da República, onde importa reforçar a força de esquerda mais consequente, trabalhadora e isenta na representação dos interesses dos trabalhadores e populações.

Neste quadro desta sextúpla crise (financeira, económica, social, energética, alimentar, ambiental), as reacções são variadas. 


Existem, claro, aqueles que desejam manter tudo como estava (“business as usual”), sem beliscar o actual modelo de dito desenvolvimento capitalista assente no conceito de permanente “crescimento económico” que conduz à sobre-exploração insustentável do planeta e dos recursos naturais escassos (água, solos, energia, biodiversidade) e na exploração do homem pelo homem que tem conduzido a novos abismos de desigualdades, injustiça social, agravamento da pobreza, aumento do desemprego, persistência da fome e dos conflitos bélicos no mundo. 


Co-existem pacificamente com os que aproveitam a crise para agravar ainda mais o referido modelo de dito desenvolvimento. Perante as dificuldade não faltam aqueles que pretendem contrapor “crescimento económico” a “direitos laborais e sociais” ou aos “objectivos ambientais”, ou seja, que nos pretendem fazer crer que estamos num momento difícil (sem escalpelizarem as causas e culpas) e que temos que optar entre o crescimento económico para combater a crise ou entre atender aos problemas sociais ou desafios ambientais. E aqui é que reside a falácia… 


Na verdade, o combate a esta crise e a forma de a vencer não se faz deixando (mais uma vez) a justiça social, a equidade na distribuição de riqueza e poder de compra para trás, não se faz adiando as reformas energéticas e de sustentabilidade ambiental, antes pelo contrário! Uma e outra são fundamentais para ultrapassar a crise. Reformas estruturais são essenciais para ultrapassar a crise. 


Concretamente, no que toca às metas ambientais, poderíamos referir que a aposta nas metas energéticas e de combate às emissões de gases com efeito estufa, representa um motor importante na criação do chamado “emprego verde”, ou seja, milhares de postos de trabalho podem ser criados pela investigação e expansão da tecnologia e indústria associadas à poupança e eficiência energética (incluindo investimento público nos sistemas de transportes públicos e na ferrovia convencional) ou às energias renováveis, segurança, autosuficiência e armazenamento energéticos. Mas não se fica por aí: uma correcta gestão pública, com capacidade directa de intervenção do Estado no sector da energia, a nível das opções, prioridades e dos preços, poderia ter impactos positivos enormes para as empresas e famílias que pagam do seu bolso uma factura acrescida para dar lucros (em Portugal) à Galp e EDP… 


Por oposição às duas primeiras atitudes existem ainda (felizmente!) aqueles que compreenderam há muito que os resultados deste modelo não mudam, são cíclicos, como cíclicas são as crises do capitalismo, ceifando ciclicamente novas vítimas. Daqueles que compreenderam que mais do que paliativos ou de soluções para ultrapassar a crise (ou suportá-la até que passe), o que necessitamos é de reformas estruturais na economia mundial, no nosso modo de vida, na produção de bens, distribuição justa de riqueza e partilha de recursos naturais de forma a satisfazer as necessidades da humanidade com sustentabilidade social, sustentabilidade ambiental, e sustentabilidade geracional. 



Vítor Dias

Vítor Dias
Desde há bastantes meses que, de uma forma tão absolutamente descarada quanto relativamente impune, está em curso com múltiplas e insistentes expressões nos media a laboriosa construção daquilo que considero uma das maiores falsificações políticas dos últimos anos.

Trata-se de, no quadro de apreciações, análises ou conjecturas sobre variantes de soluções governativas pós-eleitorais, atribuir às forças à esquerda do PS uma alegada atitude de antecipada rejeição de quaisquer acordos ou entendimentos e uma entranhada, radical e quase genética rejeição da possibilidade de virem a assumir eventuais responsabilidades governativas.

Mesmo quando tal contraponto não é expressamente formulado, está bom de ver que este juízo e caracterização das forças à esquerda do PS (e eu apenas falarei quanto ao PCP porque, em boa verdade, não poderia escrever exactamente o mesmo sobre as posições e discurso do BE), induzem inversamente a ideia de que já o PS seria uma pobre vítima da intransigência de terceiros e que, por ele, estaria sincera e activamente disponível para alianças ou entendimentos, de incidência governativa, com forças que estão à sua esquerda.

Dir-se-ia que uma data de gente, incluindo um ou outro politólogo que prezo bastante, por razões de idade ou por submersão pela onda, foram convulsivamente atingidos por uma amnésia do tamanho do Himalaia quer quanto a factos recentes quer quanto a uma longa história passada.

No domínio do recente, conseguem passar ao lado de que jamais o PS admitiu rever, tanto substancialmente como até acessoriamente, as suas orientações políticas fundamentais, sempre ancoradas à direita, e que jamais formulou com clareza qualquer disponibilidade para discussões ou exames conjuntos e responsáveis (estas coisas não se tratam com trocas de «bitaites» através da comunicação social !) sobre fórmulas  de entendimento que sempre teriam de ter como pressuposto básico um significativo corte com as políticas estruturantes por si realizadas.

Já quanto ao passado mais distante, haveria tanto para dizer que nem por sombras pode caber neste espaço. Mas, ainda que de raspão, talvez se possa lembrar aos que não sabem (há-de haver !) e aos que não gostam de lembrar ( oh, se há !) que, em 1976, PS e PCP somavam 59,28% dos votos e o que se seguiu foi primeiro um governo minoritário do PS e, pouco depois, uma coligação com o CDS; que, em 1983, PS e PCP somavam 54,18% mas o que se seguiu foi uma coligação do PS com o PSD; que, tanto em 1995 como em 1999, PS e PCP somavam cerca de 53% dos votos e o que, por duas vezes, se seguiu foi a formação dos governos minoritários de A. Guterres, anunciados logo na manhã seguinte às noites eleitorais sem qualquer contacto ou reunião com o PCP. E tudo isto para já não falar nessa página vergonhosa da história do PS ocorrida em 1985, já com Cavaco Silva como líder do PSD e primeiro-ministro, quando o PS, nas autárquicas de Dezembro desse ano, fez cerca de 40 coligações eleitorais com o PSD em municípios de maioria CDU.

Naturalmente que cada um, militante partidário, cidadão comum, jornalista, comentador ou politólogo é livre de formular as suas próprias previsões ou conjecturas sobre possibilidades ou impossibilidades. Mas isso é uma coisa e outra é proceder desavergonhadamente a uma inversão de responsabilidades que pode dar agora muito jeito ao PS mas ofende a verdade e rasura impiedosamente a história recente e passada.

Talvez alguns digam que esta crónica se agarra a aspectos formais e que é fruto de um espírito miudinho. Julgo que erram em toda a linha. É que, a par de outras, a questão das políticas a realizar e a questão das responsabilidades não são matérias formais, são a carne e o sangue da vida, da acção e da luta políticas. 

José Lourenço

José Lourenço
Os resultados das eleições para o Parlamento Europeu são muito claros, o povo português quis no passado dia 7 de Junho, exprimir de forma muito clara o seu descontentamento em relação à política seguida pelo Governo PS nos últimos 4 anos.
Só assim se justifica que o único partido, entre os principais partidos, que registou uma quebra na sua votação, em termos absolutos e em termos percentuais, tenha sido o PS.
A quebra na votação do PS, menos 570 839 votos, correspondentes a menos 37,6%, corresponde a uma verdadeira hecatombe e diz-nos que entre as anteriores eleições para o Parlamento Europeu e estas o PS perdeu um em cada três dos seus votantes.
Sabendo-se que a abstenção constitui em muitos casos um sinal de claro descontentamento em relação à situação política e social actual, não será difícil concluir que muitos dos descontentes com a política seguida pelo Governo PS, engrossaram fortemente o volume da abstenção, e se tivessem ido votar, o resultado teria sido ainda mais catastrófico para o Governo.
Do nosso ponto de vista os resultados espelham não só a derrota deste Governo, mas mais do que isso, reflectem também a derrota das políticas de direita que PS, PSD/PPD e CDS, têm perpetuado ao longo das últimas décadas. Essa conclusão pode ser retirada pelo facto do somatório destes três partidos do centrão, ser nestas eleições inferior em 277 282 votantes, ao resultado por eles obtido em 2004.
Tendo subido em todo o país, tendo conseguido os melhores resultados dos últimos 15 anos e tendo voltado a sair vencedor em três distritos – Setúbal, Évora e Beja – estes resultados devem ser por nós festejados e podem constituir um bom augúrio para os actos eleitorais que se avizinham, em Setembro – eleições legislativas – e em Outubro – eleições autárquicas.
Tendo sido bons os resultados obtidos, eles não podem no entanto permitir que possamos adormecer sobre eles. Antes devem constituir o tónico de que todos precisamos para nos três meses que nos separam das próximas eleições legislativas, tudo façamos para conservar os votos agora obtidos e para conquistar parte substancial das centenas de milhar de votantes, que tendo agora se abstido de votar, irão votar próximos actos eleitorais.
Tudo leva a crer que, à imagem do que se verificou nas várias eleições legislativas que se realizaram no nosso país, os níveis de abstenção irão nas próximas eleições legislativas baixar para um valor em torno dos 36 a 38%, o que significará que o número de votantes irá aumentar consideravelmente em relação às eleições do passado dia 7 de Junho. Neste caso teremos mais cerca de dois milhões e meio de votos para contabilizar nas urnas.
Cada força política irá procurar capitalizar as dinâmicas de vitória das últimas eleições e os dois maiores partidos do centrão – PS e PSD – irão procurar acenar com o espantalho da governabilidade – como se estes últimos 4 anos de Governo PS e os três anteriores de coligação PSD/CDS não tivessem mostrado a saciedade que maiorias absolutas não significam estabilidade social - para atraírem para si aqueles que agora se abstiveram e para tentarem ainda mudar algum sentido de voto daqueles que agora foram votar.
Da parte da CDU, teremos de reafirmar a importância que o reforço da nossa votação, e consequentemente da nossa representatividade na Assembleia da República, terá nas futuras soluções para o país.
Todos aqueles, e são cada vez mais, que defendem a urgência e a necessidade de uma ruptura com todas estas políticas que têm sido seguidas nos últimos 33 anos, têm de ser por nós sensibilizados nos próximos três meses para que desta vez votem CDU e contribuam para a mudança de que o nosso país precisa urgentemente.

Miguel Tiago

Miguel Tiago
Agora que está expresso o descontentamento de forma que eles entendem, já se vai por aí assistir às habituais tentativas de branqueamento do papel do PS ao longo destes últimos anos. Virão as lágrimas de crocodilo, as vitimizações ao estilo do “menino-guerreiro”, virá por atacado o papão do comunismo e o apelo à maioria absoluta do PS para impedir a maioria de direita. Virão as caras simpáticas, os modos menos arrogantes e a humildade fingida de quem tudo faz para não perder o poder. A mudança de estilo afinal vem comprovar o carácter arrogante de um PS que usou o poder para desfigurar o Estado, para o desmontar e para cilindrar os direitos mais elementares dos trabalhadores, pois que muda o estilo para tentar manter a política.
 
Se há coisa que estes resultados das europeias bem comprovam, é evidentemente o descontentamento gerado por políticas de direita aplicadas pelo PS que, depois de contar com um capital de esperança para a mudança, decidiu nada mudar e, pelo contrário, agudizar o pendor neo-liberal das políticas que PSD e CDS já levavam a cabo. Um descontentamento profundo que falou a linguagem dos partidos do sistema, que trouxe às urnas aquilo que o PCP e a CDU há muito vinham trazendo para a sua intervenção e, principalmente, trouxe às urnas a luta dos portugueses contra estas políticas, assim penalizando fortemente o PS e comprimindo a direita num espaço eleitoral cada vez mais curto e mais limitativo da sua influência.
 
E se há coisa que por muito que queiram agora, como de costume, os comentadores e fazedores de opinião esconder, é que a CDU foi a força que, não sustentando o seu resultado no descontentamento mas sim na confiança e no projecto de ruptura, alcançou uma subida em todos os distritos e contrariou o dogma do definhamento, uma vez mais se afirmando como a grande força da esquerda com projecto em Portugal.
 
Mas há mais reflexões que nos cabe fazer:
 
a ligação concreta que a CDU e as forças que a compõem fez ao longo dos anos, dentro ou fora dos períodos eleitorais, entre a sua intervenção institucional ou orgânica e os reais problemas das populações, reforçando as suas lutas e colocando-as no plano central da política nacional, é um elemento estrutural do seu crescimento e atinge uma expressão de dimensão absolutamente própria de uma força como a CDU na marcha de dia 23 de Maio;
 
o crescimento da CDU traduz muito mais do que o aumento numérico do número de eleitores que depositaram um voto; significa uma consolidação da confiança e um reconhecimento social e político do trabalho do PCP, do PEV, da ID e daqueles que com essas estruturas trabalham, que assenta essencialmente na convicção profunda de que é possível construir uma vida melhor para os portugueses. E essa convicção difere de um mero descontentamento ou protesto porque ela conflui, não só para o combate às políticas de direita, mas também para a construção da alternativa e da necessária ruptura, assim confirmando a CDU como o eixo da construção de uma alternativa de esquerda.
 
E é também por tudo isso que partimos para o dia-a-dia de empenho e entusiasmo redobrado, com a clara convicção de que trilhamos o caminho certo para a construção de uma vida melhor com as soluções da CDU.

Tiago Vieira

Tiago Vieira
Na campanha das eleições para o Parlamento Europeu, que no Domingo de 7 de Junho permitiram aos portugueses dizer ao Governo PS que estão fartos das suas políticas de direita, e que permitiram à CDU o alcançar de um importante resultado (o melhor das últimas décadas em eleições para o Parlamento Europeu), merece a pena analisar o papel e o comportamento da juventude. 
Os intérpretes e porta-vozes da política de direita adoram lançar junto das pessoas mistificações sobre a juventude. Ainda no ano passado o nosso Presidente da República veio a público dizer que era preocupante o desinteresse da juventude portuguesa pela política, mais recentemente o BE veio agitar a bandeira do voto aos 16 anos como forma de mais envolver os jovens na vida política. 
O que nem uns nem outros se lembram (ou preferem ajudar que as pessoas esqueçam), é que o eventual desinteresse da juventude pela política não é uma condição natural, mas antes decorre das políticas de direita e das promessas sucessivamente quebradas pelos partidos que vêm governando Portugal. Já agora, embora não seja o objectivo deste texto, importa também lembrar que o interesse pela actividade política existe junto da juventude, e que se exprime bem além das eleições, estando presente nas inúmeras lutas e iniciativas que, nos diversos sectores, envolvem largas centenas de milhares de jovens todos os anos. 

No entanto, e se dúvidas houvesse, esta campanha permitiu, de facto, esclarecê-las também nesta matéria. A campanha levada a cabo pela Juventude CDU contactou directamente largos milhares de jovens e estes responderam muito positivamente! Nas escolas, nas universidades, nas empresas, nas ruas e por toda a parte, poucos eram os jovens que não paravam para ouvir e para conversar com os activistas da Juventude CDU, tal como poucos eram os que, ao fim de alguns minutos, não exprimiam o seu acordo com a necessidade de lutar para livrar o país das políticas de direita do PS/PSD/PP. 

Fosse à porta da Citroen em Mangualde, na Universidade da Beira Interior na Covilhã, na Praça do Peixe em Aveiro, ou em qualquer uma das mais de 500 iniciativas de campanha realizadas pela Juventude CDU que permitiram contactar com milhares de jovens, era evidente que o reconhecimento dos membros da JCP, da Ecolojovem e de muitos e muitos independentes que entretanto se incorporaram na Juventude CDU era a chave para este contacto tão positivo. 

Os jovens contactados reconheciam politicamente a CDU como a força que agrega os que lutam por uma mudança séria e a sério para o país, da mesma forma que reconheciam os seus colegas de turma, de escola ou de trabalho, como aqueles que sempre lutam, lutaram e continuarão a lutar, por essa mudança, por uma efectiva ruptura. 

Desta forma, foi com satisfação e alegria que pudemos registar que o lema “Leva a luta até ao voto!” era aceite com uma profunda naturalidade e identificação e estamos seguros que foi essa uma das raízes do excelente resultado da CDU nestas eleições. Do mesmo modo, é essa alegria e força que devemos ter como inspiração para as batalhas que se seguem, para que mais um bom resultado da CDU nas legislativas e nas autárquicas sejam os alicerces de uma luta ainda mais forte pelo fim de mais três décadas de políticas contra os trabalhadores e os jovens portugueses.