Manifestos da sociedade civil! Uma perigosa farsa!

Regina Marques
 

Regina Marques

Com uma capa de aparente democraticidade e voluntarismo parece que pegou a moda de grupos de cidadãos se dirigirem aos partidos. Foram os economistas na defesa de um modelo liberal, exigindo mais flexibilidade para despedir. Outros se seguiram com fórmulas do mesmo tipo para a cultura. Agora um novo grupo aparece preocupado com a família e exigindo dos partidos clareza sobre a protecção e defesa da família.
Como se fossem pessoas sem qualquer filiação partidária, actual ou remota, como se fossem pessoas de elevada e insuspeita cultura cidadã, como se fossem seres que nunca estiveram nos próprios centros do poder exactamente afectos a partidos, estes cidadãos que tantos manifestos têm endereçado aos partidos em vésperas de eleições, mostram exactamente a face de intransigência, imodéstia e desrespeito pela lei fundamental do país que consagra direitos fundamentais aos cidadãos - de se organizarem dentro e fora dos partidos, também eles parte intrínseca da sociedade civil.  
Entre os assinantes deste manifesto - que dizem querer votar em liberdade - preocupados com a protecção da família estão deputados vinculados a forças partidárias, secretários de Estado e mesmo ministros de governos vários, de há 30 anos para cá, com graves responsabilidades no descalabro a que chegou uma grande parte das famílias portuguesas. Os docentes universitários, aparentemente mais distantes dos círculos de poder, alguns são ou foram conselheiros políticos das mais altas figuras do Estado em Portugal e na União Europeia e logo com larga possibilidade de influir nos destinos do País. Arrogam-se todos o direito de fazer recomendações aos partidos. Não ao Governo. Arrogam-se o direito de exigir dos partidos mas não pedem responsabilidades ao Governo quanto à pobreza e desemprego crescentes. Não se incomodam com os atropelos aos direitos dos portugueses com a aprovação de um Código de trabalho que retira o direito ao trabalho com direitos, flexibiliza o horário de trabalho, tornando mais incompatível a conciliação da vida dos trabalhadores com uma vida familiar, código que os partidos deles aprovaram e que o PCP reprovou. Não responsabilizam as políticas de precariedade dos empregos para homens e mulheres e para os jovens, a que eles próprios deram luz verde, impedindo os casais de assumirem a natalidade e livremente organizarem a sua vida. Não se incomodam se as mulheres trabalhadoras têm actualmente e sem ameaças de despedimento o direito de uma maternidade feliz e responsável, vivendo cabalmente a gravidez ou a assistência à família. Esta moda dos manifestos não é ingénua. O que estes magos pretendem é fazer crescer a onda do descontentamento contra os políticos e mormente contra os partidos, descredibilizar e desvirtuar a política, e por fim desmobilizar o sonho de igualdade na vida, levar ao descrédito quanto a uma possibilidade real dos portugueses terem uma vida melhor, se a opção política dos portugueses, no voto, tiver outro rumo.

Nada trazendo de proposta para a mudança real de política mais não são que formas ardilosas para esbater a força organizada dos trabalhadores, dos intelectuais, dos quadros técnicos, das mulheres, e de tantas camadas da população que exercem activamente a democracia participativa, intervindo e lutando para terem no dia a dia uma vida melhor e um futuro com segurança. Contrariamente às reivindicações silenciadas ou deturpadas do PCP, estes manifestos, de cinzentão espectro político, têm honras de acontecimento mediático. Por isso são muito perigosos! O voto na CDU dará a resposta a tão habilidosa campanha.