Virar isto ao contrário...

Gustavo Carneiro
 

Gustavo Carneiro

Mal se tinham realizado as eleições para o Parlamento Europeu e já a CDU iniciava a preparação da batalha das legislativas. Apenas dois dias depois, o Comité Central do PCP reunia e, para além da análise dos resultados das europeias, aprovava uma resolução contendo as principais linhas do Programa Eleitoral que apresentará aos portugueses. Nesse documento, propõe-se uma visão totalmente oposta àquela que tem estado por detrás da política de direita praticada há mais de 30 anos no nosso País, à vez ou em simultâneo, pelo PS, PSD e CDS-PP.

Ao invés dos «sacrifícios para todos», que na prática são  para a maioria (enquanto que uma minoria vê os seus lucros engodarem mês após mês e ano após ano), defende-se a «valorização do trabalho e dos trabalhadores». O que significa, entre outras coisas, aumento dos salários, pleno emprego, trabalho com direitos. Esta medida, para além da dimensão da justiça social, tem uma outra, económica. Como afirma Jerónimo de Sousa na edição de hoje do Avante!, as soluções de curto prazo para o combate aos efeitos da crise passam pelo desenvolvimento do mercado interno e pelo aumento do consumo das massas.

Ao contrário do que tem sido feito até aqui, em que grandes empresas industriais têm sido sucessivamente encerradas ou privatizadas aos bocados – o PCP propõe a defesa do aparelho produtivo e da produção nacional. Para que não continuemos a comprar lá fora o que ainda ontem produzíamos, e com inegável qualidade, em Portugal. São os casos da Mague, daSorefame, da Lisnave, da Quimigal, da Siderurgia Nacional... E depois falam do défice...

Mas não é tudo. Rejeitando a tese das teses do capitalismo, segundo a qual o Estado não tem vocação de produtor e de gestor, os comunistas propõem a assunção, por parte do Estado, dos sectores estratégicos da economia nacional – banca, seguros, energia, telecomunicações, transportes. Assim se evitaria os milhões e milhões de lucros que as grandes empresas (quase todas ex-empresas públicas) destes sectores geram e que ficam nos bolsos dos seus accionistas. E se poderia colocar também os proveitos gerados ao serviço do desenvolvimento do País, nomeadamente apoiando o aparelho produtivo nacional.

Certamente que a comunicação social dominante – e dominada pelos grandes grupos económicos, promotores e defensores da política de direita – tentará esconder estas propostas, como o fez no caso da declaração programática das eleições para o Parlamento Europeu. Caso não consiga, não faltarão os comentadores e os analistas a considerá-las desactualizadas eimpraticáveis. E ainda não compatíveis com a modernidade ou com a economia globalizada. Aqui concordo. Não são mesmo. Mas são justas. Então, em vez de mudarmos as propostas, mudemos a modernidade.