Vencer a crise mantendo as metas energéticas e ambientais

Francisco Madeira Lopes
 

Francisco Madeira Lopes

Neste quadro desta sextúpla crise (financeira, económica, social, energética, alimentar, ambiental), as reacções são variadas. 


Existem, claro, aqueles que desejam manter tudo como estava (“business as usual”), sem beliscar o actual modelo de dito desenvolvimento capitalista assente no conceito de permanente “crescimento económico” que conduz à sobre-exploração insustentável do planeta e dos recursos naturais escassos (água, solos, energia, biodiversidade) e na exploração do homem pelo homem que tem conduzido a novos abismos de desigualdades, injustiça social, agravamento da pobreza, aumento do desemprego, persistência da fome e dos conflitos bélicos no mundo. 


Co-existem pacificamente com os que aproveitam a crise para agravar ainda mais o referido modelo de dito desenvolvimento. Perante as dificuldade não faltam aqueles que pretendem contrapor “crescimento económico” a “direitos laborais e sociais” ou aos “objectivos ambientais”, ou seja, que nos pretendem fazer crer que estamos num momento difícil (sem escalpelizarem as causas e culpas) e que temos que optar entre o crescimento económico para combater a crise ou entre atender aos problemas sociais ou desafios ambientais. E aqui é que reside a falácia… 


Na verdade, o combate a esta crise e a forma de a vencer não se faz deixando (mais uma vez) a justiça social, a equidade na distribuição de riqueza e poder de compra para trás, não se faz adiando as reformas energéticas e de sustentabilidade ambiental, antes pelo contrário! Uma e outra são fundamentais para ultrapassar a crise. Reformas estruturais são essenciais para ultrapassar a crise. 


Concretamente, no que toca às metas ambientais, poderíamos referir que a aposta nas metas energéticas e de combate às emissões de gases com efeito estufa, representa um motor importante na criação do chamado “emprego verde”, ou seja, milhares de postos de trabalho podem ser criados pela investigação e expansão da tecnologia e indústria associadas à poupança e eficiência energética (incluindo investimento público nos sistemas de transportes públicos e na ferrovia convencional) ou às energias renováveis, segurança, autosuficiência e armazenamento energéticos. Mas não se fica por aí: uma correcta gestão pública, com capacidade directa de intervenção do Estado no sector da energia, a nível das opções, prioridades e dos preços, poderia ter impactos positivos enormes para as empresas e famílias que pagam do seu bolso uma factura acrescida para dar lucros (em Portugal) à Galp e EDP… 


Por oposição às duas primeiras atitudes existem ainda (felizmente!) aqueles que compreenderam há muito que os resultados deste modelo não mudam, são cíclicos, como cíclicas são as crises do capitalismo, ceifando ciclicamente novas vítimas. Daqueles que compreenderam que mais do que paliativos ou de soluções para ultrapassar a crise (ou suportá-la até que passe), o que necessitamos é de reformas estruturais na economia mundial, no nosso modo de vida, na produção de bens, distribuição justa de riqueza e partilha de recursos naturais de forma a satisfazer as necessidades da humanidade com sustentabilidade social, sustentabilidade ambiental, e sustentabilidade geracional.