Semana da Imobilidade

Francisco Madeira Lopes
 

Francisco Madeira Lopes


Começou no passado dia 16 e termina no próximo dia 22 (Dia Europeu sem Carros) mais uma Semana Europeia da Mobilidade, iniciativa destinada a chamar a atenção e a promover a mobilidade sustentável, os transportes públicos, os modos de deslocação suaves (com destaque para o ciclismo e pedestrianismo), com vista a combater a proliferação do automóvel nas estradas, o desperdício e dependência energéticos e as emissões de gases com efeito estufa e devolver melhor ambiente aos nossos espaços urbanos.

Arrefecido o entusiasmo das primeiras edições, a iniciativa este ano, em pleno período eleitoral, quase que está a passar despercebida. No site do Governo pode-se ler:
“A população ainda depende, excessivamente, do uso do carro, movido a combustíveis fósseis, resultando na maior fonte de emissões de dióxido de carbono que afectam o ambiente das nossas urbes.” Depois de reconhecer que “os veículos mais “limpos” e eficientes do ponto de vista energético” e o “uso de combustíveis alternativos (…) não é solução por si só”, num país que na Europa é o terceiro com mais automóveis per capita (e não será certamente graças ao poder de compra…), colocando no lugar devido, depois do show off, o verdadeiro e limitado papel e alcance dos automóveis eléctricos, continua com a propaganda:

“No Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações, desde o primeiro dia do XVII Governo Constitucional procuramos promover este objectivo, melhorando de forma significativa a oferta de transportes públicos”; “Ao nível do serviço ferroviário, reabrimos duas linhas ao serviço de passageiros e que hoje já se encontram em operação: A linha de Vendas Novas, (…) e a Linha de Leixões.”

É caso para dizer: que lata! Um PS que cancelou os investimentos de modernização da linha do norte, que reduziu serviços ferroviários (e paragens de comboios rápidos), que, em conjunto com o PSD nas últimas décadas de integração europeia encerrou centenas de km de ferrovia, estações e apeadeiros, ao mesmo tempo que construíram 2.300 km de rodovia rápida, e que mais recentemente suspendeu, ameaçando encerrar definitivamente, as linhas de via estreita do Tua, Tâmega e Corgo e se prepara para privatizar a retalho a CP com a legislação aprovada há poucos meses, vem pretender ser grande defensor dos transportes públicos e ferrovia!!!!

A reabertura da linha de Vendas Novas e parte da linha de Leixões, feitas a quente em vésperas de eleições, ainda por cima colocando já em prática a nova lógica de desresponsabilização do Estado (no caso da de Vendas Novas), exigindo financiamento às autarquias para assegurar um serviço de interesse regional e nacional, é uma tentativa fraca de tentar mandar fumo para os olhos dos portugueses esperando que estes tenham memória curta …

Nesta Semana da Mobilidade o que se deve registar é a Imobilidade do PS e PSD e dos seus programas eleitorais em relação aos direitos à mobilidade das populações, a preços socialmente justos, às possibilidades e oportunidades de desenvolvimento que traz a ferrovia convencional ao país e às regiões, às nossas necessidades em matéria de poupança e eficiência energética e em relação aos desafios ambientais e de redução das emissões de CO2 que se nos colocam.