Insistir, insistir, insistir

Vítor Dias
 

Vítor Dias

Provavelmente não poucos leitores, mais informados, mais atentos ou exigentes, dirão que o que se segue já foi dito e que não é pela repetição que lá vamos. Permito-me entretanto chamar a atenção desses leitores que a grande questão que se deve colocar não é se o que, uns e outros, aqui escrevemos é inteiramente original ou não, mas sim se o que de verdadeiro, justo e esclarecedor aqui escrevemos já chegou tão longe quanto devia. E também me permito chamar a atenção desses leitores para que os nossos adversários eleitorais esses não só não tem pruridos de originalidade como, tal como diabo da cruz, fogem de todos os desafios concretos que lhe lancemos à cara.

Por mim, ainda agora, noutro espaço, acabo de desafiar os esquadrões blogosféricos que se mobilizam para o voto no PS para se pronunciarem sobre a comparação entre o que o PS veio vergonhosamente a fazer em matéria de Código de Trabalho e aquilo que, sobre a matéria havia escrito ( e eu reproduzi integralmente) no seu Programa Eleitoral de 2005 e até agora o saldo é que ninguém daquela banda piou fosse o que fosse.

Na verdade, sem pretender ser certeiro ou muito menos exaustivo, cada dia de pré-campanha que passa mais me convenço que são duas as principais cartas em que o PS aposta na batalha das legislativas (e que qualquer delas já terá tido o seu peso na deslocação de algumas pessoas da área do BE para o apoio ao PS).

A primeira consiste em tudo fazer para que, no pensamento dos eleitores, tudo o que de mais chocante, agressivo, intolerável e revoltante decorreu da política governamental destes últimos quatro anos e meio fique envolto numa espécie de nevoeiro ou, dito de outra forma, abrangido por um género de amnésia colectiva e submerso por uma nova onda de promessas, piscar de olhos à esquerda e palavrório futurante.

E daqui decorre a imperiosa necessidade de campanha da CDU conseguir conciliar a indispensável afirmação da solidez, justeza e credibilidade da nova política e projecto que propõe com a implacável rememoração do que de mais odioso, grave e injusto aconteceu no país neste último mandato, por responsabilidade do PS e do seu governo.

A segunda principal carta em que o PS aposta é o velhíssimo truque do «voto útil»(como bem sabemos, útil para quem o recebe, sempre inútil para quem o dá) no PS como alegada «única» forma de evitar o regresso ao poder do PSD ou de uma coligação pós-eleitoral PSD-CDS.

Ora, a este respeito, havendo até intelectuais e professores universitários em movimento de deslocação política que o parecem ignorar, nenhum dúvida de que é preciso levar a toda parte alguns esclarecimentos e raciocínios que a muitos de nós podem parecer óbvios e elementares mas que não o são para centenas de milhar de portugueses. A saber:

1. Para voltarem a governar o país, PSD e CDS precisam de votos neles e devia meter-se pelos olhos adentro que votos nas forças à esquerda do PS (designadamente na CDU) não são votos no PSD e CDS e sempre serão votos que lhes faltarão para obterem a maioria absoluta de que carecem, do que só pode decorrer a evidência notória que votar CDU em nada favorece um regresso do PSD-CDS ao governo;

2. Ao contrário do que tanta gente julga, é uma falsidade de todo o tamanho supor que o que determinará a formação do governo subsequente às eleições é saber qual é o partido mais votado. Imaginemos, por exemplo, que o PSD até fosse o mais votado mas, caso como CDS não formasse uma maioria absoluta, bastava o PS assim querer e nunca um governo PSD-CDS veria a luz do dia. Inversamente, imaginemos que o PS era o partido mais votado mas que havia uma maioria absoluta PSD+ CDS. Nesse caso, alguém duvida que quem formaria governo não seria o PS mas a coligação pós-eleitoral PSD- CDS ?.

3. Assim sendo, fica claro que o que determinará a possibilidades ou variantes de curso governativo pós-eleitoral é o tipo de maioria numéricas multipartidárias que saiam dos resultados eleitorais.

4. E, saindo dos esclarecimentos de base numéricos, de toda a evidência o que eleitoral e politicamente mais determinará o curso dos acontecimentos e mais pode influenciar a conquista das políticas e soluções de que Portugal precisa é um significativo reforço da CDU, aliás absolutamente merecido pelo seu combate dos últimos quatro anos e meios, pelo seu enraizamento social, pelas suas garantias de coerência e pela valia e acerto das suas propostas e programa.