José Lourenço

José Lourenço
Na semana passada o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os resultados do Inquérito ao Emprego do 1º trimestre de 2009.
Desta vez Sócrates não pôde fazer o seu já habitual nº de comparar alhos com bogalhos, pela simples razão que os dados publicados se referem ao 1º trimestre de 2009, os quais comparam com 1º trimestre de 2005, momento em que este Governo tomou posse.
E o que dizem esses números?
Portugal tinha no 1º trimestre de corrente ano, 5 099 100 empregos e 495 800 trabalhadores desempregados, enquanto no 1º trimestre de 2005 tinha 5 094 400 empregos e 412 600 trabalhadores desempregados. Em quatro anos o emprego praticamente estagnou enquanto o desemprego engrossou com mais cerca de 85 mil trabalhadores.
O desemprego real sabê-mo-lo, ultrapassa já o meio milhão de desempregados e a taxa de desemprego deverá já ter atingido os 10%.
Este é sem duvida o momento oportuno para confrontarmos o Governo PS com o célebre cartaz que inundou o nosso país nas eleições legislativas de 2005, em que prometia criar nestes 4 anos 150 mil postos de trabalho.
A realidade nua e crua aí está para o desmentir, nos últimos 4 anos não só não foram criados postos de trabalho como o desemprego disparou.
Aqui temos mais uma promessa deste Governo a juntar a muitas outras, nomeadamente aquela da descida dos impostos, não cumprida.
Os números do desemprego reflectem uma outra realidade que eu gostaria neste breve texto de realçar. Refiro-me ao desemprego dos jovens que sendo certo que tem sistematicamente um peso bem superior ao da restante população, a verdade é que no 1º trimestre de 2009 atingiu a taxa de 20,1%, quando no início desta legislatura era de 16%. Cerca de pelo menos 100 mil jovens na idade activa estão hoje na situação de desempregados e um nº bem considerável de jovens vêm adiando sistematicamente a sua entrada na vida activa, prolongado a vida escolar até ao seu limite. 
Perante estes dados do desemprego e em especial do desemprego jovem percebe-se o crescente alheamento dos jovens em relação a esta sociedade que cada vez mais os marginaliza. Se nos lembrarmos que temos nesta faixa etária entre os 15 e os 24 anos cerca de 1 milhão de eleitores vejam só o campo disponível que temos para espalharmos a mensagem de que é necessária e urgente uma ruptura com estas políticas, de que é necessária uma outra política para a juventude deste país. Uma política que não marginalize a juventude mas que antes mobilize toda a sua energia na construção de uma sociedade mais justa, mais equilibrada, uma sociedade em que a nossa juventude se sinta ela própria um elemento activo, na construção e transformação do mundo em que vivemos.

Esteve recentemente em Portugal, um eminente economista americano - Joseph Stiglitz. Não disse nada que, entre nós comunistas, não estivesse já dito e equacionado. Mas, se ao nosso discurso e à nossa análise, os jornais, os comentadores, os especialistas fazem "ouvidos de mercador", não se cansando de repetir que não dizemos nada de novo e estamos ultrapassados, pelo menos alguns dos reparos deste Nobel da Economia merecem uma observação nossa, na medida em que podem ser um argumento de autoridade contra a ideia da extrema competência e grande notabilidade de quem nos governa e torna a pedir a maioria para governar. Há observações de Stiglitz que são também um contra-argumento sobre aquela peregrina ideia de que nós em Portugal temos uma crise, que vem de longe, vem doutro mundo, e que cá dentro não há responsáveis e que só há vítimas.
Segundo o Publico de 9 de Maio, jornal que muito esporadicamente releva um ou outro apontamento analítico dos comunistas, Joseph Stiglitz acusou o sistema financeiro norte-americano, adoptado pelos governos americano e da Europa, de ser o grande responsável pela crise, acrescentando que "a crise é o resultado da luta de classes contra os mais pobres". Através do facilitismo do crédito e da desregulação do mercado financeiro, o capital financeiro, com o apoio político dos governos, espoliou o dinheiro que restava aos mais pobres entre os pobres, sem que tal revertesse para o investimento produtivo gerador de riqueza. Stiglitz considerou inadequadas as medidas que estão a ser tomadas e preconizou políticas diferentes, defendeu a realização de investimento público e augurou que "a doutrina de direita sobre a forma como funciona a economia de mercado falhou completamente".
Particularmente em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu, não deixa de ser importante avivar a leitura que sempre fizemos desta dramática crise que encerra empresas em cascata, resultado de um crime económico sem paralelo. Um crime económico que destruiu a indústria nacional, condenou a agricultura e as pescas, não criou alternativas de gestação de riqueza nacional, e lançou no desemprego e na exclusão milhares de trabalhadores, homens e mulheres, com famílias constituídas, famílias inteiras que se vêm desprovidas dos mais elementares direitos e meios autónomos de subsistência. Um crime que obrigou o País a perder a própria independência alimentar e nos remete de novo para a emigração e para novas formas de discriminação e humilhação.
Quanto a nós, não é descabido o recurso à autoridade deste Nobel para provar mais uma vez a seriedade dos nossos argumentos e a actualidade da nossa doutrina, a coerência e a pertinência dos olhares que fazemos sobre a sociedade e a vida. Não é descabido reclamar a justeza dos nossos ideais e dos modelos de análise que usamos agora que estamos em cima de uma colossal crise social, gerada pela ganância desmedida que o sistema capitalista nos impôs, e que aprofundou abissalmente as desigualdades e as assimetrias.
Sendo certo que as relações económicas estão na base e são o cimento das relações humanas, e que só se houver justiça e direitos económicos poderá haver justiça social, cultural e humana, é bom que muitos cientistas sociais mostrem que afinal os comunistas não estão sós e que a sua análise não só é útil para prevenir as crises como é necessária para as ajudar a solucionar. Como sabíamos a crise foi gerada por algumas das mais "notáveis cabeças" que muito "competentemente" desenham o mapa dos destinos de milhões de pessoas. São os mesmos "sábios que elaboram e aprovam os planos e as cartas políticas estratégicas para Portugal e para os restantes países da Europa, traçam objectivos para os países mais pobres, com os efeitos que estão à vista.
Num tempo em que a linguagem usada provoca uma clamorosa confusão, importa mostrar que também na linguagem somos diferentes. Na política, como na vida, é pela linguagem que nos damos a conhecer. É por isso que no plano eleitoral dizer SIM à CDU é mostrar inequivocamente outra competência e outra notoriedade. Repescando um dos sentidos das palavras de Stiglitz, podemos dizer que com o voto acentuaremos a luta de classes. Sim, mas connosco será sempre "a favor dos mais pobres".

André Levy

André Levy
No Congresso do PS, Sócrates referiu-se à crise financeira mundial como se o céu nos tivesse caído na cabeça. Nós que estávamos tão bem, com o défice orçamental abaixo dos 3%, tão bem comportadinhos e responsáveis, logo nos havia de acontecer tal tragédia. Sócrates tem insistindo nesta tecla, colocando o ónus da actual crise económica em Portugal nos efeitos da crise mundial, desresponsabilizando o seu governo e os anteriores governos do Bloco de Direita (PS, PSD e CDS-PP) na destruição da nossa economia produtiva e na promoção do sector financeiro especulativo. Várias vezes o PCP chamou a atenção para que uma crise estava instalada em Portugal muito antes do rebentar da crise global, mas Sócrates persistiu em insistir que Portugal era um mar de rosas, até sermos infectados por um mal alheio. Dada a sua arrogância e autismo, continuará a assobiar para o lado após a própria Comissão Europeia, nas previsões económicas para 2009-2010 , fazer referência a um declínio económico em Portugal “entre a segunda metade de 2007 e a primeira metade de 2008”, precisamente antes da crise financeira nos EUA começar a repercutir nas finanças e economias mundiais. O relatório faz previsões nada promissoras para Portugal: queda do PIB, nos níveis de investimento privado e na taxa de exportação; aumento histórico das taxas de desemprego (podendo atingir os 10%); e redução dos salários nominais. 
Mas Sócrates e o PS têm toda a confiança na União Europeia. Parte da sua campanha de rua baseia-se em recordar aos portugueses como o PS esteve presente na adesão à então CEE, na adesão ao Euro e na elaboração do Tratado de Lisboa. A primeira versão do cartaz com foto do Soares indicava erroneamente o ano de adesão como sendo 1986, mas essa “lamentável gralha” foi atribuída à gráfica: o PS não comete erros. Claro que os cartazes marcam os eventos. Cabe a quem os vê lê-los como eventos positivos ou negativos. A adesão à CEE trouxe-nos o quê exactamente? A imposição de políticas comuns que destruíram a nossa agricultura e pescas, e logo a nossa soberania alimentar. Veio dinheiro para muitos cursos de formação de fachada e estradas, que funcionam mais como artérias de importação de produtos estrangeiros do que veias de exportação do nosso sector produtivo cada vez mais reduzido. O cartaz com Guterres segurando uma moeda de um euro recorda-nos o momento em que Portugal perdeu a sua soberania monetária e financeira. O cartaz com Sócrates recorda-nos como o PS se rendeu totalmente ao neo-liberalismo (que agora demagogicamente critica), embora omita como o Tratado de Lisboa não foi referendado, como o PS havia prometido nas eleições legislativas anteriores. Todos revelam passos de capitulação da nossa soberania nacional, um valor que obviamente o PS não preza, como é tão bem expresso no lema “Nós, Europeus”. Cabe agora aos eleitores dizer que nós, Portugueses queremos um Portugal soberano.

Vítor Dias

Vítor Dias
Tudo ponderado, não é excessivamente cedo para pedir quer aos eleitores fiéis da CDU quer a todos aqueles e aquelas que têm tantas boas razões para desta vez dar o seu voto à CDU que, por favor mas a favor de si próprios, pensem bem na importância de não faltarem com o seu voto no dia 7 de Junho.

Ao contrário do que fez o Parlamento Europeu na sua campanha político-publicitária contra a abstenção em que, a par de argumentos mais sensatos, não deixou de incluir a ideia de que o dia de voto também é uma ocasião «para ir a um jardim ou beber um copo», o nosso apelo para uma participação massiva e poderosa na votação de dia 7 de todos os que confiam na CDU tem outros fundamentos mais sérios e cruciais.

Com efeito, não sendo difícil admitir que mesmo na área de influência eleitoral da CDU haja não poucos cidadãos para quem a Europa, o Parlamento Europeu e as chamadas «questões europeias» dizem pouco, ou então que consideram que estas eleições ainda são a «feijões» (rima mas não é verdade), então é necessário dizer-lhes e lembrar-lhes que o Parlamento Europeu pode ficar longe, mas a votação é cá e é cá que os seus resultados terão incontornáveis repercussões.

Sobretudo porque, ninguém duvide, ou darão – como esperamos, queremos e é necessário – um sinal de dinâmica e esperança a favor dos que lutam por mudanças reais e profundas na política nacional ou darão um sinal de resignação e desistência a favor de um futuro de imobilismo que, como a palavra indica, só terá para nos oferecer mais do mesmo.

Os eleitores que já confiaram no passado e estão disponíveis para confiar pela primeira vez há bastante na CDU, sendo como são cidadãos e cidadãs conscientes e empenhados, de uma coisa não podem ter a mais pequena dúvida: é que aquele Secretário-geral do PS e primeiro-ministro que agora, dia sim dia não, nos diz que as eleições são só para o Parlamento Europeu e não terão projecções directas na vida política nacional, será o Secretário-geral do PS e primeiro-ministro que, se no dia 7 o resultado do PS for bom ou pelo menos razoável, estará em todas as televisões a atirar-vos à cara que os resultados mostraram um sólido apoio à política do seu governo, mostraram que tanto falatório sobre descontentamentos e manifestações contra a política do seu governo eram afinal obra de pequenas minorias e que nada nem ninguém pode falar mais alto e mais claro que as urnas.

E a pergunta franca, directa e sincera que quero aqui fazer a todos e a todas que tanto e tão generosamente lutaram contra a injusta política deste governo nos últimos quatro anos é apenas esta : querem passar pela situação de, sentados em casa, terem de ouvir José Sócrates a amesquinhar e desvalorizar a vossa indignação, o vosso descontentamento e a vossa luta, sem ao menos terem a consciência tranquila de que, tendo ido votar CDU, tudo fizeram para que isso não acontecesse?

Quero crer que não querem. E quero crer que perceberão que a nossa frase «Levar a luta até ao voto», longe de ser uma coisa esquisita, é a consigna de maior profundidade e valor democráticos que está presente nesta campanha eleitoral.

Gustavo Carneiro

Gustavo Carneiro
José Sócrates anda irritado com os assobios e apupos com que é brindado, juntamente com candidatos, ministros e dirigentes do seu partido, onde quer que vão. A culpa, como é evidente, vai inteirinha para esses comunistas e sindicalistas, que andam pelo país a disseminar o «ódio» contra o PS de que falou Vitalino Canas no 1.º de Maio...
Realmente, só mesmo por «ódio» se pode compreender a revolta dos trabalhadores com a presença de Vital Moreira na manifestação do 1.º de Maio da CGTP-IN. Ou alguém acredita que este sentimento pode vir do desemprego que não pára de aumentar, com muitos dos desempregados sem terem direito ao respectivo subsídio, por recusa do PS em alterar as regras para a sua atribuição? Ou mesmo da precariedade, que atinge já mais de 1 milhão e 200 mil trabalhadores, sobretudo jovens, e que o Governo resolveu alargar e legalizar com a revisão do Código do Trabalho? Certamente que assobios e apupos não surgiram como reacção à complacência e cumplicidade com que o Governo presencia os abusos do recurso ao lay-off, a sobrecarga dos horários, os cortes nos salários, ou mesmo o encerramento de empresas que durante anos receberam milhões de euros de fundos públicos e comunitários... Desculpas de mau pagador, evidentemente.
Também os professores mostraram nestes quatro anos todo o seu «ódio» por José Sócrates e pela ministra da Educação. Isto por mais que digam que as manifestações, mais ou menos monumentais, mais ou menos espontâneas, foram uma forma de protesto contra a política educativa do Governo, que desorganiza e pretende dividir a carreira docente em duas, que cria um exame para o ingresso na profissão e enreda os professores num complexo e inútil processo de avaliação...
E os estudantes do secundário, que recebem a ministra com protestos? Todos comunistas e sindicalistas! É «ódio», seguramente, e não qualquer revolta relacionada com o Estatuto do Aluno, um verdadeiro código penal nas escolas, com o Regime de Faltas ou com as miseráveis condições de muitas das escolas do País...
E o que dizer de uma reunião do Conselho de Ministros em Guimarães ser recebida com uma concentração denunciando que aquela cidade minhota «está mais pobre»? O que é isto senão «ódio»? Só porque naquele concelho e naquela região os salários são muito inferior à média nacional e o desemprego superior?... Como se isto justificasse tamanho «ódio»... Então e as populações de Anadia e Vouzela, que assobiaram o primeiro-ministro só porque o seu Governo encerrou as urgências hospitalares?... Então e...
Só há uma coisa que não bate certo nisto tudo. Os comunistas e sindicalistas estão em todo o lado...

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