A luta continua!

André Levy
 

André Levy

As conclusões do Comité Central do PCP (do dia 29 de Setembro) apontam correctamente como grande avanço das últimas eleições legislativas a perda de uma maioria absoluta por parte de qualquer um dos partidos que segue a política de direita. Este facto por si só constituiu um motivo de satisfação e uma indicação que o contexto política será necessariamente diferente. Não haverá mais a tão proclamada estabilidade, que se traduz na prática numa postura de arrogância e autismo. O governo, qualquer que venha a ser, será compelido a ouvir, dialogar, ceder, mudar de posição em função da vontade popular, a ter que persuadir pela razão, em vez de fazer o que quer porque pode.
As mesmas conclusões apontam para a descida significativa do eleitorado do PS, o falhanço do PSD e as causas da subida significativa do CDS-PP e do BE. Conclui também que a CDU teve uma subida importante no número de votos e ganhou um deputado. Tendo em conta as condições em que a campanha foi travada, o crescimento seguro e constante da CDU é um factor de confiança.

À primeira vista, os resultados não indiciam um grande ruptura com a política de direita, algo que CDU defendeu e defende como necessário para o país, e que teve expressão em centenas de milhares de vozes durante as lutas travadas durante a última legislatura. Afinal, é com CDS-PP que o PS poderá atingir uma maioria relativa. Mas note-se que o somatório das três forças que representam a política de direita – a saber, o CDS-PP, PSD e PS – perderam (relativamente a 2005) mais de 350 mil votos e 13 deputados. Por contraste, se somarmos a votação da CDU e do BE, registou-se uma subida de mais de 220 mil votos e nove deputados. Isto é, apesar dos fluxos entre partidos, as forças da política de direita tiveram uma descida eleitoral. Admito que esta deslocação de votos não seja muito marcante ou equivalente à necessária para uma efectiva ruptura com a política de direita. Mas é um sinal. Temos agora pela frente as várias batalhas autárquicas, onde seguramente a CDU dará mais um passo no seu reforço eleitoral. Mas tenhamos sempre presente que a verdadeira ruptura com a política de direita dependerá dos momentos que seguirão depois das eleições, da continuação da luta, da defesa dos direitos dos trabalhadores, dos serviços públicos, do ambiente e cultura, da democracia e solidariedade internacional. O reforço eleitoral será um contributo para essa luta. Mas a efectiva ruptura com a política de direita passará pelo reforço orgânico do PCP e do espaço unitário que é a CDU. Passa pela sua influência sem paralelo entre os trabalhadores e populações, que precisa de ser aprofundado e alargado. Há que não esquecer essa luta, mesmo durante a campanha autárquica onde os objectivos são mais imediatos. Pois a luta continuará, com o PCP, com a CDU e os seus apoiantes solidamente sempre a crescer.