O pendor antidemocrático do desemprego

Regina Marques
 

Regina Marques

Quando falha o sentido democrático na política: quem perde são os trabalhadores. É o desemprego, é a instabilidade, é a desmotivação. Mas perde o país, porque diminui a intervenção dos trabalhadores. Perdem os jovens e as mulheres, que não se sentem realizados. Perdem as famílias porque não tem as condições mínimas de subsistência.

São perdas económicas que se traduzem em números, pois o prejuízo anual para o país causado pelo desemprego calcula-se em 20 mil milhões de euros. Trata-se de um prejuízo com custos económicos directos, resultante da não arrecadação das receitas provenientes do trabalho e das despesas acrescidas com a segurança social ou outros subsídios.

O problema do desemprego em Portugal está a atingir uma tal gravidade com efeitos tão devastadores que não nos podemos ficar pelas estatísticas. Mas elas são importantes até para mostrar como são enganosas e servem de almofada às políticas do Governo.

O número oficial de desempregados, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística é de mais de 500 mil (507. 700 no 2º trimestre de 2009) e não inclui a totalidade dos desempregados, ou seja, todos aqueles e aquelas que procuram um primeiro emprego e que entretanto vão aceitando os recibos verdes e a precariedade como razão de sobrevivência. Ainda segundo o INE, o próprio desemprego oficial ter aumentado entre o 1º trimestre de 2009 e o 2º Trimestre de 2009, a nível do País, de 495,8 mil para 507,7 mil, contrariando uma vez mais a campanha propagandística de Sócrates, já agora alimentada pelos números controversos do IEFP, tutelado pelo Ministro do Trabalho, que quando o desemprego aumenta por todo o País, consegue-o fazer baixar nas estatísticas que publica.

Mas o desemprego traduz uma desastrosa opção política de desincentivo da economia nacional, de perda de competências e recursos, de indiferença face aos problemas humanos inerentes à situação de desemprego de qualquer cidadão, de qualquer trabalhador. Traduz políticas de investimento injusto e desigual a favor de meia dúzia de privilegiados.

O desemprego induz problemas de índole social e pessoal que não se contabilizam em números. Os efeitos do desemprego geram desencantos, desilusões, que naturalmente são terreno fértil para a abstenção da participação política, seja no voto, seja na participação cívica e na luta pela alteração da política, que tem que ser feita todos os dias. Induz também graves depressões, sentimentos de revolta e desespero.

Marx antecipava essa ligação do trabalho com a vida, dizendo que "o trabalho é a actividade vital própria do trabalhador, a expressão pessoal da sua vida… E esta actividade vital destina-se a assegurar os meios necessários á sua existência… (o trabalhador) trabalha para viver". Desta leitura queremos deduzir que quanto mais cresce o desemprego maior é o alheamento da polis e naturalmente menos democracia se respira. As coisas ligam-se. Não há democracia sem direitos, nomeadamente ao salário e ao emprego. Disso são responsáveis os mentores desta economia liberal - sejam do PS ou do PSD - e como tal devem continuar a ser penalizados.

De facto, em nossa opinião, o desemprego é seguramente o problema mais grave e que mais afecta as pessoas em Portugal. No entanto, o governo do PS continua a recusar alargar o subsídio de desemprego a mais desempregados, tal como propôs e propõe a CDU. Com esta medida, a vida seria melhor, para mais de 200.000 desempregados e respectivas famílias. È pela defesa da qualidade de vida dos trabalhadores e pela igualdade de direitos e de oportunidades que nos diferenciamos de outros. De facto, lutamos para sermos todos iguais, na vida social, pessoal e política. O que exige justiça social e democracia, o combate de sempre da CDU.