“Uma injecção de confiança”

Diogo D'Ávila
 

Diogo D'Ávila

Sexta - feira, no Centro de Trabalho do PCP não se falava de outra coisa senão do dia seguinte. Reconfirmar os contactos, ultimar os pormenores dos autocarros, pintar a faixa, as bandeiras e as pancartas, definir as últimas tarefas de cada um, para que  tudo corresse de acordo com o planeado. Há muito que toda a organização da JCP se encontrava empenhada na preparação da Marcha “Protesto, Confiança e Luta - Por uma vida melhor” convocada pela CDU. Durante muitas semanas se realizaram reuniões de preparação, se fizeram distribuições do postal para inscrições nos autocarros, nas escolas e locais de trabalho, se colaram cartazes, se foi “marchando” rumo aquilo que viria a ser a maior iniciativa realizada por uma força política em Portugal.

Eis que chega o dia. Pela manhã ameaçava chover, o que aumentava o nervoso miudinho que acompanhava os camaradas e amigos que iam chegando ao local combinado para a partida do autocarro.
Pelo caminho, passavam autocarros de todos os pontos do país. Com a devida sinalização do seu local de partida e o cartaz, era impossível não irem para a Marcha. Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, um por um transformavam em certeza a ideia de que iria ser uma grande demonstração de confiança e luta.

Mas qualquer certeza que houvesse, por muito reforçada que fosse pelo conhecimento do número de autocarros que  estavam a caminho, pela experiência, ou por qualquer outro factor, nunca poderia prever com a mínima exactidão o que ontem à tarde se passou do Saldanha ao Marquês do Pombal. Mais de 85 000 pessoas, comunistas, democratas e outros que apoiam activamente o ideal e projecto da CDU, deram corpo a todas as componentes que constam do lema desta marcha. Muitos, muitos jovens entoaram bem alto o protesto com as políticas de direita. Via-se nas faixas, pancartas e bandeiras que empunhávamos a falta de condições da escola, a falta de pagamento das bolsas da universidade, a determinação na luta dos trabalhadores de determinada empresa. Tudo isto, entre muitas outras coisas, acompanhado de palavras de ordem, cânticos e correrias que afirmavam a luta como o único caminho.
O que estranhamente (para alguns) também se via, era a alegria de ali estar, o sorriso e esbugalhar de olhos de quem gritava bem alto “Luto eu e lutas tu, Juventude CDU”. E então aí se percebeu que todos e cada um dos que ali estavam, não só não estavam conformados e protestavam, como também tinham a profunda confiança de que pela luta é possível mudar a situação do país, e conquistar uma vida melhor.
Como foi referido mais tarde no comício, no próximo dia 7 de Junho, a forma de luta mais consequente é o voto na CDU, e assistir a tantos milhares com estas mesmas convicções, é naturalmente um motivo de alegria e confiança.

Partimos rumo a casa ainda embriagados com tudo aquilo. Depois de digerida toda a exaltação, fica o sentimento mais importante. O sentimento de que vamos dar o melhor de cada um de nós nestas duas semanas que nos separam das eleições para o Parlamento Europeu, pois muitos mais amigos e familiares há para ouvir, esclarecer e ganhar para o voto na CDU.
Ao entrar no autocarro e perguntando a um amigo o que achou ele respondeu: “isto foi uma injecção de confiança…”