Estabilidade e Governabilidade

José Lourenço
 

José Lourenço

Passaram pouco mais de 15 dias das eleições para o Parlamento Europeu e não há debate que se trave sobre a actualidade política, na rádio ou na televisão, em que os comentadores políticos habituais, não refiram a importância dos resultados das próximas eleições legislativas produzirem a uma solução governativa estável e que o que estará em causa nessas eleições será a escolha entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates.

Procurando ignorar os resultados das eleições do passado dia 7 de Junho e recusando-se a ler aquilo que esses resultados inequivocamente exprimem, isto é, a derrota das políticas de direita seguidas por este Governo nos últimos 4 anos e três meses, os vários comentadores pagos a peso de ouro, procuram desde já fazer o seu trabalho de condicionamento do sentido de voto dos portugueses.

Dado o estado lastimoso do nosso país em termos económicos e sociais, a tarefa destes chamados opinion makers não é nada fácil, mas não tenhamos duvidas muitos portugueses influenciados por estes cantos de sereia irão ser tentados a mudar o seu sentido de voto e a votar num dos chamados partido do centrão – PS e PSD -.

A todos esses para quem a linguagem da estabilidade e governabilidade do país possa ser sedutora, é fundamental lembrar o que foram os últimos 4 anos de maioria absoluta PS e se essa maioria e estabilidade governativa teve alguma correspondência no dia a dia dos portugueses.

Tivemos as maiores manifestações de que há memória, com cem mil e duzentos mil trabalhadores na rua convocados pela CGTP, tivemos as maiores manifestações dos professores, com cento e cinquenta mil professores na rua, tivemos manifestações de funcionários públicos, de reformados, de agricultores, de pescadores, de polícias, de estudantes e de enfermeiros, tivemos por todo o país manifestações das populações contra o encerramento de escolas e de centros de saúde, tivemos uma greve geral e tivemos mesmo o bloqueio de estradas por parte de camionistas, lutando contra o preço exagerado dos combustíveis. Em suma é difícil encontrar período da nossa história recente, em que apesar da maioria absoluta de um partido, o Governo daí resultante tenha criado maior instabilidade social.

Por tudo isto, não podemos deixar de chamar à atenção dos portugueses de que nas próximas eleições legislativas, o que está em causa é a eleição de 230 deputados e não a eleição de qualquer Primeiro-Ministro e de que, serão estes deputados que terão de formar as maiorias necessárias à viabilização do Governo saído a partir dos resultados expressos nas urnas e de acordo com o programa de Governo apresentado na Assembleia da República.

Não há maiorias parlamentares por mais absolutas que elas sejam que garantam a estabilidade governativa, se essas maiorias há imagem e semelhança da actual, servirem para atacar os direitos e conquistas dos trabalhadores e do povo.

Percebe-se o desespero dos banqueiros para quem sendo indiferente que a maioria seja do PS ou do PSD, ela terá no entanto que ser absoluta, pois só assim um partido ou outro, defenderá sem vacilar os seus interesses, mas já temos muito dificuldade em engolir a possibilidade de centenas de milhares de trabalhadores poderem uma vez mais cair no canto destas velhas sereias.

Compete-nos a nós com as armas que temos e que não podemos nem devemos subestimar, lembrar aos mais esquecidos o que tem sido a nossa história recente e impedir através do seu esclarecimento que contribuam para a estabilidade governativa, que nos últimos trinta e três anos tem procurado destruir aquilo que a revolução criou em cerca de ano e meio.

É uma tarefa árdua mas é muito aliciante!