Enfrentar preocupantes ameaças

João Corregedor da Fonseca
 

João Corregedor da Fonseca





Chega a parecer inverosímil como José Sócrates, a generalidade dos ministros e a direcção do grupo parlamentar do Partido Socialista continuam a dirigir-se aos portugueses não obstante a recente e muito pesada derrota eleitoral que sofreram. Os dirigentes do PS mantêm o seu discurso arrogante como se aquela força política não tivesse perdido mais de quinhentos mil votos e cinco eurodeputados, relativamente aos resultados obtidos em idênticas eleições de 2004.

Sócrates dá o tom e prossegue, impassível, a sua política declaradamente de direita, como se nada tivesse ocorrido. Desenvolve uma intensa campanha publicitária sobre os feitos governamentais mesmo aqueles que agravam de forma sensível as condições de vida dos trabalhadores criando-lhes novos e acrescidos problemas.

“A nossa estratégia política é para manter”; “O rumo político que traçamos será sempre o mesmo”; “A nossa actuação política não sofrerá alterações, será para continuar” – estas declarações são repetidas, à saciedade, pelos responsáveis governamentais que revelam uma completa e inadmissível irresponsabilidade política.

Entende o governo que nada tem de alterar. Sente-se realizado ao ter, durante os últimos três anos e meio, acentuado o desemprego, as desigualdades e injustiças sociais, a pobreza, a instabilidade familiar, a degradar o Serviço Nacional de Saúde e o sistema educativo e a segurança social! Em suma, os governantes do PS mostram-se satisfeitos com as políticas de direita e neoliberais que têm promovido tão do agrado dos capitalistas, do grande patronato, como estes não se cansam de apregoar.

Por outro lado, alguns comportamentos (in) cívicos de membros do governo não são toleráveis. São antidemocráticos. Desde logo, a forma agressiva, com oratória violenta, como Sócrates enfrenta as legítimas críticas dos deputados, dos sindicalistas, de populares, o desplante mal-educado do titular da pasta dos Assuntos Parlamentares que gosta de “malhar na oposição”, a insultuosa campanha desencadeada contra os professores pela responsável do Ministério da Educação, até às ordinarices do ministro da Economia – outros exemplos poder-se-iam citar – revelam o desnorte em que se encontra o PS e o seu governo.

Este tipo de actuação tem de ser severamente criticado, pois concorre para que largas franjas da população portuguesa acentuem a sua descrença na nossa Democracia. Será que ainda não compreenderam que os portugueses já estão fartos de tamanha verborreia? O que a população deseja é uma mudança radical da política adoptada e não continuar a ouvir tais argumentos.

A situação do País é, nunca é demais repeti-lo, muito grave. Foi provocada, durante tantos anos, pelo PSD, CDS e PS. Convém referir, neste momento, que a presidente social-democrata, também ela pouco interessada em promover políticas progressistas susceptíveis de fomentarem o bem-estar da população, já divulgou as suas verdadeiras intenções, embora ainda não tenha tido a coragem de apresentar oprograma político e eleitoral do seu partido.

Ela disse, alto e bom som, que o seu objectivo principal é atacar tudoo que diga respeito ao sector público, a começar pelo Serviço Nacionalde Saúde, reservando para o Estado “um papel mínimo”.

Não há dúvida, os portugueses têm muitos motivos para se mostrarem alarmados, uma vez que Sócrates e Ferreira Leite são ambos defensores acérrimos das mesmas políticas, com ligeiras nuances.

Perante este quadro e tão preocupantes ameaças, entendemos que, para obrigar a uma efectiva mudança de rumo, se torna necessário aumentar a influência da verdadeira e consequente esquerda, ou seja, da CDU, deforma a impedir-se que o País continue a resvalar para uma situação cada vez mais dramática.

As próximas eleições, legislativas e autárquicas, vão servir para que a CDU, em pleno crescimento, venha a aumentar o número de deputados e de autarcas. Para isso, vamos todos empenhar-nos com entusiasmo e vivacidade certos de temos razão em continuar a defender energicamente as classes mais desfavorecidas, a apresentar propostas credíveis para o desenvolvimento do País e para concorrer decisivamente para a ruptura, que se impõe, com a política neoliberal.