Na luta de classes, não há espectadores

André Levy
 

André Levy

Os resultados das eleições europeias marcaram um passo importante no caminho para uma ruptura com a política de direita e – por muito que os “comentadores oficiais” se resignem a admitir – uma vitória significativa da CDU: mais votos, mais pontos percentuais, subida de votação em todos os distritos, e, por pouco, não foi eleito um terceiro eurodeputado da CDU. E a CDU foi a força política mais votada em vários conselhos e distritos, cobrindo uma larga porção do território nacional. Estes resultados devem fomentar grandes expectativas para as próximas duas rondas eleitorais onde, contrariamente às eleições europeias, o escrutínio nacional se reparte por vários círculos regionais. Deve incutir, nos militantes das organizações que compõem a CDU e nos muitos independentes que a apoiam, um espírito de esperança na mudança e renovadas forças para as batalhas que se seguem.


Uma das batalhas a travar é a batalha contra a abstenção, mas também contra o voto nulo e em branco. É de assinalar que os votos nulos foram nestas eleições quase o dobro que nas eleições europeias de 2004 (4,63% vs. 2.57%). O voto nulo reflecte uma postura distinta da abstenção. Tratam-se de eleitores que participam no processo democrático, o respeitam e valorizam, mas que não encontraram entre as treze (!) opções no boletim de voto uma única que lhes merece-se a cruz de confiança. Nem mesmo entre os novos partidos, auto-designados “movimentos”, que pretenderam tirar proveito do sentimento que “os partidos são todos os mesmos”. Há uma importante batalha ideológica a travar entre esta camada do eleitorado, pois os factos demonstram que os partidos não são todos iguais. As forças que integram a CDU caracterizam-se por uma capacidade de trabalho legislativo que se destaca das demais forças e pela sua contínua presença junto das populações, não remetendo esse contacto para os períodos eleitorais. Distinguem-se de todas as restantes forças pelo facto dos deputados por si eleitos não auferirem qualquer benefício salarial pelo exercício da tarefa com que foram incumbidos. Não estão “à caça de tacho”, nem à procura de protagonismo. Só na CDU os trabalhadores e as populações encontram uma força que coloca os seus interesses acima de quaisquer objectivos partidários ou interesses económicos.


A crise económica e social que vivemos coloca em evidência a luta de classes. Só não a vê quem não quer. Uma luta onde não há espectadores, e onde o árbitro está comprado. Uma luta onde há que tomar partido. Não há forma de evitá-lo. A abstenção, o voto em branco ou nulo, não é um “voto de protesto”, mas um apoio “aos mesmos do costume”. É desse lado que querem estar? Há que convencer cada eleitor que o seu voto pode contar para a mudança, sendo expresso na CDU. Aos que respondem, no âmbito das legislativas, que “vocês não vão lá”, há que recordar que essas eleições não são para eleger o governo, mas a Assembleia da República, onde importa reforçar a força de esquerda mais consequente, trabalhadora e isenta na representação dos interesses dos trabalhadores e populações.