Bruno Dias

Bruno Dias
Há uns anos, no bairro onde eu cresci, foi inaugurado um monumento diferente. Era um Monumento ao Poder Local Democrático, evocação dos anos de trabalho, de luta e de conquista de Abril onde em cada dia se constrói o futuro. Mas era um monumento diferente do habitual – à primeira vista, dir-se-ia que nada tinha a ver com o poder local: nada menos que a figura de um burro, cujo dorso ganhava a forma de um escorrega onde brincavam crianças.
Na altura, houve quem estranhasse e até achasse mal fazer-se uma coisa daquelas, quando o assunto era tão sério. Afinal, todos aqueles anos de trabalho, honestidade e competência, de luta e de ligação às populações não podiam ser retratados assim, com um burro e umas brincadeiras de crianças. A explicação não podia ser mais simples, e não podia ser mais bela.
O escultor (ele próprio um intelectual daqueles que tomam Partido, ao lado dos trabalhadores e do povo), participou na apresentação pública do monumento. E ali partilhou connosco a ideia do seu trabalho: o burrico, animal de trabalho que leva a carga de sol a sol (mas que também finca a pata se a carga for demais), fizera parte de um quotidiano antigo e distante, quando os aguadeiros subiam estrada acima levando a água do chafariz até às pessoas.
Com a Revolução de Abril, com as comissões administrativas democráticas e com as vereações, as juntas e assembleias de freguesia, as comissões de moradores, os conselhos municipais, o movimento associativo, abriram-se as portas de uma claridade nunca imaginada. Cada dia, cada jornada de trabalho, cada necessidade identificada, era uma tarefa inadiável onde a própria liberdade conquistada ganhava mais sentido e onde todos faziam falta.
Abrir valas pela rua e levar a água e os esgotos a casa das pessoas foi uma dessas tarefas. As infra-estruturas foram nascendo, primeira etapa de um caminho extraordinário em que as pessoas fizeram sua a cidade. Mas outras necessidades, muitas, incontáveis, apareciam. Uma cidade mais limpa, mais verde, mais viva, onde as crianças pudessem brincar. É aí que aparece o escorrega, e o escultor regressa à estória para nos explicar o resto.
É que ali perto, praticamente ao fim da rua, estavam uns estaleiros navais. Eram enormes, dos maiores do mundo. Ali trabalhavam milhares de operários, construindo riqueza todos os dias, lutando pelos direitos, organizando-se para ajudar a fazer um país melhor e mais justo. Depois de um dia de trabalho, muitos desses operários deitavam outra vez mãos à obra. Mas desta vez, o que nascia da chapa de ferro, do tubo, da soldadura e dos rebites não eram hélices nem cascos – eram escorregas, baloiços e outros brinquedos. Muitas crianças da cidade passaram assim a ter, pela primeira vez, um parque infantil onde podiam brincar.
Era essa homenagem que ali estava, nas crianças que desciam pelo escorrega: o poder local democrático é muita gente. A sua História foi construída por autarcas, por trabalhadores, por colectividades e comissões de moradores, por actores e professores e atletas, por cantoneiros e arquitectos e jardineiros. Por operários e crianças.

A gente vai continuar

Anos mais tarde, um governo traíu aqueles operários e encerrou o estaleiro. Os escorregas já tinham sido substituídos por outros mais coloridos, mais confortáveis. O pior foi o resto. E o resto continua hoje, com outro governo e outro estaleiro. A destruição de postos de trabalho faz-se agora no Arsenal, e a luta dos trabalhadores continua. Vai continuar sempre, porque é possível uma vida melhor, e nem a exploração nem a injustiça são fatalidades a que estejamos condenados.
Entretanto, novos desafios foram surgindo, e continuam a surgir. Novas ideias, novas possibilidades. Foi preciso planear, definir políticas para um território equilibrado, um desenvolvimento integrado, sustentável, solidário. Novas e melhores escolas, bibliotecas, casas da juventude, espaços para a cultura e o desporto. Opções estratégicas para a defesa do ambiente, para a defesa da água pública como bem essencial que é de todos. A cidade foi crescendo, ganhando mais vida – e qualidade de vida.
Há pouco tempo, entrou em funcionamento um novo ponto de acesso gratuito à Internet, em banda larga sem fios, numa praça do centro da cidade. Outros Pontos Net estão de portas abertas, espalhados pelo concelho e por toda a região. Novos projectos instalam-se, também para a investigação e as novas tecnologias, com mais desenvolvimento, emprego, abrindo caminho a novas realidades.
Mas a raíz dessa nova realidade não é nem nunca pode ser esquecida. Ela está no trabalho e na luta por uma vida melhor e mais justa. Está numa política diferente, praticada por quem sabe de que lado está, verdadeiramente do lado das populações.
Quer no trabalho autárquico quer na batalha eleitoral que se trava nesta etapa, o combate é duro, é exigente e desigual. E há muito para fazer. Mesmo nesta “recta final” há muito trabalho pela frente. Há muita propaganda para afixar, carros de som para conduzir, arruadas para fazer, há que conversar com as pessoas, ouvir as pessoas, aprender com elas. E desafiá-las para trabalhar e lutar ao nosso lado.
E é possível mostrar o que valemos com o esclarecimento, com a afirmação do nosso projecto, com a mobilização de todos para que este Domingo seja uma grande jornada de construção do futuro. Por isso, não podemos descansar nem baixar os braços, e por isso cá estamos para defender as nossas propostas e o nosso projecto autárquico. Procuramos sempre as melhores soluções. Temos o realismo de enfrentar e combater os novos problemas. Mas não perdemos de vista os nossos ideais. E continuaremos a luta para além de Domingo.
A melhor forma de traçar o caminho do futuro e trabalhar na sua construção é porventura não esquecer nunca qual é a nossa origem. E é essa também uma das nossas características que fazem a diferença: não esquecemos de onde vimos. Temos orgulho nas nossas raízes, e com esse orgulho afirmamos a identidade própria do nosso povo e das nossas terras.
Pode não ser já para amanhã que teremos aquilo a que o Jorge Palma chamava de “Terra dos Sonhos”. Mas não desistimos de lutar por uma cidade – e uma sociedade – em que «toda a gente trata a gente toda por igual». Por isso dizemos, como também diz o Palma, que «enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar».

Catarina Pereira

Catarina Pereira
A já poucas horas das eleições autárquicas, o trabalho da CDU não cessa e muito há ainda a fazer. Todos os dias há trabalhadores para contactar, jovens para abordar, populações para esclarecer. A campanha da CDU, não obstante o seu silenciamento por parte da comunicação social, é feita a todas as horas do dia, durante todos os dias, desde há largos meses. Num ano em que nos deparámos com três batalhas eleitorais – as Eleições para o Parlamento Europeu em Junho, para a Assembleia da República em Setembro e para as Autarquias já no próximo domingo – o trabalho é intenso, mas a resposta é também extremamente gratificante. Gratificante pelo reconhecimento do papel da CDU, enquanto força que luta pelos direitos dos trabalhadores, dos jovens e do povo, enquanto força que está presente nas empresas, nos locais de trabalho, nas escolas, também fora do período eleitoral, enquanto força cuja presença nas autarquias é sinónimo de desenvolvimento, democracia e melhor qualidade de vida. Respostas que se manifestaram nos resultados dos dois actos eleitorais já realizados, que deram mais votos à CDU, e que nos dão mais força e confiança para a última destas batalhas.
Para as Eleições autárquicas, a CDU envolveu, nas suas listas, milhares de homens, mulheres e jovens. A juventude dá, com efeito, um contributo inestimável à dinamização da campanha e ao contacto com os jovens, incluindo aqueles que votam pela primeira vez. A Juventude CDU tem vindo a realizar debates, iniciativas, está nas escolas e nas empresas, nos bairros e nas ruas, todos os dias a afirmar e a divulgar o projecto da CDU. Um projecto que abrange todas as esferas de intervenção e competência do poder local e que dá particular destaque às questões da juventude.
Nas autarquias em que a CDU é poder, os jovens têm acesso a espaços de fruição e criação cultural, espaços em que os jovens podem desenvolver a sua actividade desportiva, espaços onde a juventude se pode organizar no movimento associativo. Mas este apoio à juventude vai mais além da implantação e gestão destes espaços. A CDU nas autarquias cria espaços de discussão e participação juvenis, onde as associações juvenis formais e informais estão envolvidas na definição das políticas locais para a juventude.
A CDU é a força que, baseada num profundo conhecimento da vida, necessidades e aspirações dos jovens, está na linha da frente da defesa dos seus direitos, seja através da promoção de programas de habitação a custos controlados e de reabilitação urbana, seja a elaboração de projectos que contribuam, pelo seu conteúdo, para a formação da consciência social e política das novas gerações e para a promoção e afirmação dos valores da democracia, solidariedade, paz e multiculturalidade, seja a promoção de políticas específicas para os jovens trabalhadores das autarquias, valorizando as suas condições de trabalho e estabilidade profissional.
Dia 11 de Outubro os jovens não estarão indiferentes ao contributo da CDU para a melhoria dos seus concelhos. A CDU fez e continuará a fazer o seu melhor nas autarquias; a CDU defendeu e continuará a defender os direitos da juventude.

Miguel Tiago

Miguel Tiago
A recta final aí está. A poucos dias da última convocação eleitoral, podemos certamente afirmar que a CDU e a Juventude CDU dinamizaram uma das mais ricas campanhas eleitorais dos últimos anos e, com muitas certezas, a mais rica de todas as que disputam hoje os espaços eleitorais em causa. Por ter força e ser dinâmica, mas não só. A CDU e as forças que a compõem dinamizaram e continuarão a dinamizar esta campanha, com estas características, riqueza e diversidade, porque é assim a expressão da sua natureza.
Esta campanha intimamente ligada aos problemas das populações, uma campanha nacional, em todas as ruas, escolas, empresas ou locais de trabalho, nascida das preocupações de todos os trabalhadores e jovens portugueses, sem centrar em líderes ou slogans de marketing o seu alcance, não abdicando da sua verdadeira dimensão de massas, mostrou-se a única capaz de envolver as pessoas, os jovens, as mulheres, os trabalhadores, assim redobrando a convicção e o empenho de que é possível construir uma vida melhor em Portugal. Não porque julgamos ser guardiões do futuro, mas porque confiamos plenamente na capacidade criativa e construtiva do povo português, capacidade que, lado-a-lado com a CDU se vai reforçando e sustentadamente consolidando.
É esse Povo que romperá com o rumo de destruição nacional que vem sendo praticado através das sucessivas políticas de direita, mas não o fará sem contar com a força e o empenho comprometido de todos quantos entregam o seu esforço e trabalho revolucionário nessa grande frente de esquerda nacional que é a CDU.
A última expressão da luta eleitoral que travamos depois desta sucessão de actos eleitorais é precisamente a que mais próxima está dos cidadãos, independentemente da sua profissão, da sua localização e até da sua condição social e de classe, muitos são os que vêem no Poder Local democrático a instituição do poder mais capaz de atender a um conjunto vasto de preocupações, muitas vezes intimamente relacionadas com a sua qualidade de vida. O compromisso da CDU com os princípios de Abril, a aposta firme na consolidação de direitos democráticos, do desporto à educação, fazem dos autarcas da CDU os mais comprometidos com os interesses e aspirações da população mas também os mais competentes no que toca à sua resolução pronta e eficiente. Os motivos são simples, os autarcas da CDU, os candidatos da CDU são os próprios interessados na resolução dos problemas, são parte integrante da vida do meio em que se inserem, sem quaisquer outros interesses, sem compromissos com os interesses obscuros que se movimentam cada vez mais em torno da especulação imobiliária, do ordenamento do território, da exploração de recursos humanos, da privatização de serviços, etc..
Pelo contrário, os eleitos da CDU, os candidatos da CDU assumem esse compromisso elementar de colocar o seu trabalho, a sua honestidade e a sua competência ao serviços dos interesses comuns, combatendo as estratégias que lhes são alheias, as políticas de direita, a empresarialização dos serviços, as privatizações de água e saneamento, a conversão das autarquias em agências imobiliárias, sem deixar de estreitar a ligação do poder local às populações e de dinamizar a sua luta por uma vida melhor, na cultura, no desporto, no ambiente e qualidade de vida, na mobilidade, no trabalho e na educação. São também essas diferenças que nos marcam como força única no panorama autárquico nacional e são essas que trarão, certamente, as vitórias que compensarão a audácia e a perseverança dos activistas da CDU e da luta das populações.
Mas o que é mesmo mais certo é que, depois da recta final destas provas eleitorais, vem a verdadeira prova política. E, independentemente dos resultados aqui ou além, todos sabem poder contar com a CDU, com o PCP, o PEV e outros activistas lá onde a luta for precisa, lá onde o posto de trabalho estiver em causa, onde a rua precisar de arranjo, onde a ligação ao saneamento básico for necessária, onde a água for privatizada, lá onde a política e a luta se fazem fora do tempo de eleições!

José Casanova

José Casanova
«Fracasso da CDU»; «Morte do PCP»; «Derrota histórica»: estas são algumas das frases utilizadas pelos «analistas» de serviço nas televisões em todas as noites de contagem de votos - frases que eles começam a gritar antes, mesmo, de os votos estarem contados e que, no dia seguinte, serão repetidas pelos seus gémeos da imprensa escrita, na ideia, por todos eles tomada como certa, de que uma mentira muitas vezes repetida se transforma em verdade. Foi assim na noite de 27 de Setembro, assim tinha sido na noite de 7 de Junho e o mesmo aconteceu em todas as noites eleitorais das últimas décadas.

De tal forma que, com tantas vezes a morte anunciada e dada como certa, bem pode dizer-se que o PCP e a CDU são a prova provada da existência de milagres – neste caso, podendo apresentar-se como exemplo concreto daquele que é muito justamente considerado o pai de todos os milagres: o da ressurreição…

O esquema é simples, é sempre o mesmo e desenvolve-se em dois tempos concretos: primeiro, ao som da campainha que anuncia «resultados eleitorais», os ditos analistas, por efeito de um reflexo condicionado, entram, tal como os cães do Pavlov, em estado de salivação incontida e babam-se e babam sobre os telespectadores as tradicionais declarações de óbito do PCP e da CDU; no dia seguinte, concretizada a transferência bancária, limpam a baba com as costas das mãos e lambem as mãos do dono. Satisfeitos, todos.

Sublinhe-se que, no que diz respeito à condenação à morte do PCP, trata-se de uma sentença velha, de longas barbas brancas, decidida há muitos, muitos anos, no tempo em que… os animais falavam e o fascismo decretava. Não têm conto as vezes que o PCP foi dado como morto e enterrado, as vezes que a sua extinção definitiva foi anunciada desde então. Curiosamente, há nestas repetidas e sucessivas sentenças de morte uma particularidade assinalável: é que as formulações a que recorriam os «analistas» desse tempo são as mesmas a que recorrem os seus sucessores de hoje – a confirmar que, como escreveu o poeta, «isto anda tudo ligado»…

Mas deixemo-los entregues à sua tarefa de eternos cangalheiros de um morto que não morre, e vamos ao que interessa: a campanha da CDU para as autárquicas do próximo domingo.

Trata-se de uma campanha em que participam dezenas de milhares de candidatos e activistas, homens, mulheres e jovens que, por todo o País, fazem chegar às populações provas inequívocas do trabalho, da honestidade e da competência de que é feita a intervenção dos eleitos da CDU ao longo de mais de trinta anos; e que transportam consigo o compromisso de prosseguir esse trabalho, essa honestidade e essa competência no próximo mandato.

Trata-se de uma campanha de massas e que se distingue das campanhas de todas as restantes forças políticas pela seriedade singular da sua mensagem e pelo respeito que manifesta pela inteligência e pela sensibilidade dos eleitores.

Temos uma semana à nossa frente, uma semana que nos permitirá – a cada um de nós, individualmente, e a todos nós, colectivamente - contactar, ainda, muitos milhares de pessoas e conquistar muitas delas para o voto na CDU – com a consciência de que a campanha só termina depois de contados todos os votos.

Vamos a isso, então.

José Lourenço

José Lourenço
Poucas horas depois de serem conhecidos os resultados das eleições legislativas de domingo, na passada 2ª feira de manhã, o INE publicava os dados referentes à estimativa do défice público para 2009, nesse mesmo dia comunicados ao gabinete de estatística da União Europeia (Eurostat). De acordo com o INE, Portugal deverá terminar 2009 com um défice orçamental de 9 658,7 milhões de euros, o que deverá representar 5,9% do PIB (refira-se que em nossa opinião e tendo em conta a informação divulgada pela Direcção Geral do Orçamento até final de Agosto, o défice deverá ser bem superior, podendo mesmo ultrapassar os 7% do PIB).  
Nesse mesmo dia a Lusa publicava a notícia de que a Comissão Europeia abrirá em Novembro um novo procedimento por défice excessivo contra Portugal, devido à ultrapassagem do limite dos 3% estabelecido no Pacto de Estabilidade.
É claro que a notícia divulgada diz também que as consequências serão para já simbólicas, já que em tempos de crise mundial mais de metade dos países da União Europeia deverão ultrapassar os 3% de défice orçamental, no entanto, não deixa de ter significado político que poucas horas depois das eleições que dão maioria relativa ao PS, os portugueses sejam uma vez mais confrontados com o deficit orçamental, o qual foi responsável nos últimos 4 anos e meio por um conjunto de medidas tomadas pelo Governo, que contribuíram para o agravamento das condições de vida dos portugueses.
Claro que não é o Governo PS a vir falar no deficit orçamental, mas como sempre acontece nestas coisas, primeiro vêm os organismos oficiais alertar para os pretensos perigos, para depois muito pesaroso vir o governo tomar as medidas draconianas que pretensamente é obrigado a tomar – corte no investimento público, redução dos apoios sociais, redução do nº de trabalhadores e diminuição dos salários reais na administração pública, privatização de serviços públicos, deterioração do serviço nacional de saúde, degradação da escola pública e cortes no valor real das reformas e pensões -, para controlar o défice orçamental.
Por várias vezes durante a campanha eleitoral esta questão do défice orçamental foi por nós levantada e chamámos à atenção que para nós, a sua resolução deveria passar fundamentalmente pelo aumento das receitas do Estado e não pela redução das suas despesas.
O défice orçamental sendo um problema, como é qualquer défice, não integra o conjunto dos chamados défices estruturais da nossa economia – défice alimentar, energético, tecnológico, educativo -, pelo que não pode constituir um objectivo da política económica a sua redução, podendo até acontecer o contrário, que é a necessidade do seu agravamento conjuntural como forma de contribuir para a resolução dos défices estruturais – esta é a situação que actualmente se vive no nosso país -.
Por outro lado a poucos dias das eleições autárquicas, em que todo o poder local vai a votos e em que estão em causa visões muito dispares do seu papel na nossa sociedade, o regresso do fantasma do deficit orçamental não augura nada de bom no que diz respeito ao recursos financeiros que o Estado Central disponibilizará para as autarquias nos próximos anos.
Nos últimos 4 anos e meio muitos foram os ataques à autonomia do poder local que com o pretexto do controle do défice orçamental foram levados a cabo pelo Governo, nomeadamente através da nova Lei das Finanças Locais (Lei nº 2/2007), em que a preocupação fundamental do Governo foi reduzir as transferências para os municípios em sede de orçamento de estado e criar mecanismos de controlo dos níveis de endividamento das autarquias, mesmo que para tal não só a autonomia financeira e administrativa dos municípios, como a sua sobrevivência possam estar em causa.
Vale a pena, agora que o fantasma do défice orçamental volta a surgir, lembrar às populações e aos candidatos a futuros autarcas o que isso significou no ataque à autonomia do poder local nos últimos anos.    

Gustavo Carneiro

Gustavo Carneiro
A CDU obteve no domingo um excelente resultado eleitoral, aumentando o seu número de votos, reforçando a sua percentagem eleitoral e elegendo 15 deputados, mais um do que em 2005. De tão óbvio, não deveria ser necessário escrever uma linha que fosse sobre este assunto. Acontece que vários comentadores, analistas, politólogos e outros que tais vieram dizer que não, que a CDU fora derrotada nas urnas por ter descido para o quinto lugar – naquela tão inovadora quanto absurda análise futebolística da política. Tese, aliás, já intensamente difundida antes das eleições, nos comentários às inúmeras sondagens que foram saindo...
Com esta manobra, a que outros partidos se prestam (quem ganhou ou perdeu, quem ficou no pódio ou fora dele...), pretendem confundir os eleitores da CDU – actuais ou potenciais –, incutindo a ideia de que esta é uma força a perder e a definhar e que, como tal, de nada vale confiar-lhe o seu voto. No máximo, esperam até conseguir desmoralizar e desmobilizar os seus activistas, que dão o melhor das suas capacidades e energias – haja ou não eleições próximas – para levar aos trabalhadores e ao povo as propostas da coligação e dos partidos que a compõem.
Não se pode nem se deve ignorar o impacte que uma manobra desta envergadura, com recurso a meios poderosíssimos, poderá ter em muitos milhares de eleitores indecisos – Quantos mais votos poderia ter alcançado a CDU sem os preconceitos e o favorecimento de outras forças difundidos pela comunicação social? Ao certo, nunca o saberemos, mas talvez não fossem poucos...
Mas convém não esquecer nem deixar de valorizar o significado actual do voto na CDU – o voto que derrubou preconceitos, que dá mais força à luta, que verdadeiramente conta na construção da alternativa de esquerda que o País precisa. E há também que recordar, sempre, que não pára de aumentar o número daqueles que votam na coligação. Como disse recentemente, numa reunião, um camarada, são cada vez mais os que votam na CDU, coisa bem diferente dos que votaram noutros partidos. Uma diferença que vai muito para além dos tempos verbais.
Se podemos admitir que neste primeiro objectivo poderão ter alguns resultados – não tão positivos como desejariam, pois a CDU não só resiste como se reforça – no segundo falham estrondosamente. Os militantes e activistas da CDU não se deixam abater por resultados eleitorais – muito menos quando estes são extremamente animadores, como é o caso – nem por campanhas mediáticas. Porque é gente resistente e combativa, que sabe que é na luta organizada e quotidiana que se firma a consciência; gente que sabe o que custa conquistar votos – que nenhuma televisão serve numa bandeja, antes pelo contrário – através do contacto, do esclarecimento, da confiança; gente que compreende que a ruptura e a mudança estão muito para lá dos votos.
Gente que sendo igual a toda a gente é diferente, pois tem um sonho, um ideal, um projecto aos quais dedica parte substancial do seu tempo, das suas energias e capacidades. Em troca, apenas a imensa satisfação do combate, da camaradagens, das pequenas vitórias. E isto faz toda a diferença!

André Levy

André Levy
As conclusões do Comité Central do PCP (do dia 29 de Setembro) apontam correctamente como grande avanço das últimas eleições legislativas a perda de uma maioria absoluta por parte de qualquer um dos partidos que segue a política de direita. Este facto por si só constituiu um motivo de satisfação e uma indicação que o contexto política será necessariamente diferente. Não haverá mais a tão proclamada estabilidade, que se traduz na prática numa postura de arrogância e autismo. O governo, qualquer que venha a ser, será compelido a ouvir, dialogar, ceder, mudar de posição em função da vontade popular, a ter que persuadir pela razão, em vez de fazer o que quer porque pode.
As mesmas conclusões apontam para a descida significativa do eleitorado do PS, o falhanço do PSD e as causas da subida significativa do CDS-PP e do BE. Conclui também que a CDU teve uma subida importante no número de votos e ganhou um deputado. Tendo em conta as condições em que a campanha foi travada, o crescimento seguro e constante da CDU é um factor de confiança.

À primeira vista, os resultados não indiciam um grande ruptura com a política de direita, algo que CDU defendeu e defende como necessário para o país, e que teve expressão em centenas de milhares de vozes durante as lutas travadas durante a última legislatura. Afinal, é com CDS-PP que o PS poderá atingir uma maioria relativa. Mas note-se que o somatório das três forças que representam a política de direita – a saber, o CDS-PP, PSD e PS – perderam (relativamente a 2005) mais de 350 mil votos e 13 deputados. Por contraste, se somarmos a votação da CDU e do BE, registou-se uma subida de mais de 220 mil votos e nove deputados. Isto é, apesar dos fluxos entre partidos, as forças da política de direita tiveram uma descida eleitoral. Admito que esta deslocação de votos não seja muito marcante ou equivalente à necessária para uma efectiva ruptura com a política de direita. Mas é um sinal. Temos agora pela frente as várias batalhas autárquicas, onde seguramente a CDU dará mais um passo no seu reforço eleitoral. Mas tenhamos sempre presente que a verdadeira ruptura com a política de direita dependerá dos momentos que seguirão depois das eleições, da continuação da luta, da defesa dos direitos dos trabalhadores, dos serviços públicos, do ambiente e cultura, da democracia e solidariedade internacional. O reforço eleitoral será um contributo para essa luta. Mas a efectiva ruptura com a política de direita passará pelo reforço orgânico do PCP e do espaço unitário que é a CDU. Passa pela sua influência sem paralelo entre os trabalhadores e populações, que precisa de ser aprofundado e alargado. Há que não esquecer essa luta, mesmo durante a campanha autárquica onde os objectivos são mais imediatos. Pois a luta continuará, com o PCP, com a CDU e os seus apoiantes solidamente sempre a crescer.

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