André Levy

André Levy
No Congresso do PS, Sócrates referiu-se à crise financeira mundial como se o céu nos tivesse caído na cabeça. Nós que estávamos tão bem, com o défice orçamental abaixo dos 3%, tão bem comportadinhos e responsáveis, logo nos havia de acontecer tal tragédia. Sócrates tem insistindo nesta tecla, colocando o ónus da actual crise económica em Portugal nos efeitos da crise mundial, desresponsabilizando o seu governo e os anteriores governos do Bloco de Direita (PS, PSD e CDS-PP) na destruição da nossa economia produtiva e na promoção do sector financeiro especulativo. Várias vezes o PCP chamou a atenção para que uma crise estava instalada em Portugal muito antes do rebentar da crise global, mas Sócrates persistiu em insistir que Portugal era um mar de rosas, até sermos infectados por um mal alheio. Dada a sua arrogância e autismo, continuará a assobiar para o lado após a própria Comissão Europeia, nas previsões económicas para 2009-2010 , fazer referência a um declínio económico em Portugal “entre a segunda metade de 2007 e a primeira metade de 2008”, precisamente antes da crise financeira nos EUA começar a repercutir nas finanças e economias mundiais. O relatório faz previsões nada promissoras para Portugal: queda do PIB, nos níveis de investimento privado e na taxa de exportação; aumento histórico das taxas de desemprego (podendo atingir os 10%); e redução dos salários nominais. 
Mas Sócrates e o PS têm toda a confiança na União Europeia. Parte da sua campanha de rua baseia-se em recordar aos portugueses como o PS esteve presente na adesão à então CEE, na adesão ao Euro e na elaboração do Tratado de Lisboa. A primeira versão do cartaz com foto do Soares indicava erroneamente o ano de adesão como sendo 1986, mas essa “lamentável gralha” foi atribuída à gráfica: o PS não comete erros. Claro que os cartazes marcam os eventos. Cabe a quem os vê lê-los como eventos positivos ou negativos. A adesão à CEE trouxe-nos o quê exactamente? A imposição de políticas comuns que destruíram a nossa agricultura e pescas, e logo a nossa soberania alimentar. Veio dinheiro para muitos cursos de formação de fachada e estradas, que funcionam mais como artérias de importação de produtos estrangeiros do que veias de exportação do nosso sector produtivo cada vez mais reduzido. O cartaz com Guterres segurando uma moeda de um euro recorda-nos o momento em que Portugal perdeu a sua soberania monetária e financeira. O cartaz com Sócrates recorda-nos como o PS se rendeu totalmente ao neo-liberalismo (que agora demagogicamente critica), embora omita como o Tratado de Lisboa não foi referendado, como o PS havia prometido nas eleições legislativas anteriores. Todos revelam passos de capitulação da nossa soberania nacional, um valor que obviamente o PS não preza, como é tão bem expresso no lema “Nós, Europeus”. Cabe agora aos eleitores dizer que nós, Portugueses queremos um Portugal soberano.

Vítor Dias

Vítor Dias
Tudo ponderado, não é excessivamente cedo para pedir quer aos eleitores fiéis da CDU quer a todos aqueles e aquelas que têm tantas boas razões para desta vez dar o seu voto à CDU que, por favor mas a favor de si próprios, pensem bem na importância de não faltarem com o seu voto no dia 7 de Junho.

Ao contrário do que fez o Parlamento Europeu na sua campanha político-publicitária contra a abstenção em que, a par de argumentos mais sensatos, não deixou de incluir a ideia de que o dia de voto também é uma ocasião «para ir a um jardim ou beber um copo», o nosso apelo para uma participação massiva e poderosa na votação de dia 7 de todos os que confiam na CDU tem outros fundamentos mais sérios e cruciais.

Com efeito, não sendo difícil admitir que mesmo na área de influência eleitoral da CDU haja não poucos cidadãos para quem a Europa, o Parlamento Europeu e as chamadas «questões europeias» dizem pouco, ou então que consideram que estas eleições ainda são a «feijões» (rima mas não é verdade), então é necessário dizer-lhes e lembrar-lhes que o Parlamento Europeu pode ficar longe, mas a votação é cá e é cá que os seus resultados terão incontornáveis repercussões.

Sobretudo porque, ninguém duvide, ou darão – como esperamos, queremos e é necessário – um sinal de dinâmica e esperança a favor dos que lutam por mudanças reais e profundas na política nacional ou darão um sinal de resignação e desistência a favor de um futuro de imobilismo que, como a palavra indica, só terá para nos oferecer mais do mesmo.

Os eleitores que já confiaram no passado e estão disponíveis para confiar pela primeira vez há bastante na CDU, sendo como são cidadãos e cidadãs conscientes e empenhados, de uma coisa não podem ter a mais pequena dúvida: é que aquele Secretário-geral do PS e primeiro-ministro que agora, dia sim dia não, nos diz que as eleições são só para o Parlamento Europeu e não terão projecções directas na vida política nacional, será o Secretário-geral do PS e primeiro-ministro que, se no dia 7 o resultado do PS for bom ou pelo menos razoável, estará em todas as televisões a atirar-vos à cara que os resultados mostraram um sólido apoio à política do seu governo, mostraram que tanto falatório sobre descontentamentos e manifestações contra a política do seu governo eram afinal obra de pequenas minorias e que nada nem ninguém pode falar mais alto e mais claro que as urnas.

E a pergunta franca, directa e sincera que quero aqui fazer a todos e a todas que tanto e tão generosamente lutaram contra a injusta política deste governo nos últimos quatro anos é apenas esta : querem passar pela situação de, sentados em casa, terem de ouvir José Sócrates a amesquinhar e desvalorizar a vossa indignação, o vosso descontentamento e a vossa luta, sem ao menos terem a consciência tranquila de que, tendo ido votar CDU, tudo fizeram para que isso não acontecesse?

Quero crer que não querem. E quero crer que perceberão que a nossa frase «Levar a luta até ao voto», longe de ser uma coisa esquisita, é a consigna de maior profundidade e valor democráticos que está presente nesta campanha eleitoral.

Gustavo Carneiro

Gustavo Carneiro
José Sócrates anda irritado com os assobios e apupos com que é brindado, juntamente com candidatos, ministros e dirigentes do seu partido, onde quer que vão. A culpa, como é evidente, vai inteirinha para esses comunistas e sindicalistas, que andam pelo país a disseminar o «ódio» contra o PS de que falou Vitalino Canas no 1.º de Maio...
Realmente, só mesmo por «ódio» se pode compreender a revolta dos trabalhadores com a presença de Vital Moreira na manifestação do 1.º de Maio da CGTP-IN. Ou alguém acredita que este sentimento pode vir do desemprego que não pára de aumentar, com muitos dos desempregados sem terem direito ao respectivo subsídio, por recusa do PS em alterar as regras para a sua atribuição? Ou mesmo da precariedade, que atinge já mais de 1 milhão e 200 mil trabalhadores, sobretudo jovens, e que o Governo resolveu alargar e legalizar com a revisão do Código do Trabalho? Certamente que assobios e apupos não surgiram como reacção à complacência e cumplicidade com que o Governo presencia os abusos do recurso ao lay-off, a sobrecarga dos horários, os cortes nos salários, ou mesmo o encerramento de empresas que durante anos receberam milhões de euros de fundos públicos e comunitários... Desculpas de mau pagador, evidentemente.
Também os professores mostraram nestes quatro anos todo o seu «ódio» por José Sócrates e pela ministra da Educação. Isto por mais que digam que as manifestações, mais ou menos monumentais, mais ou menos espontâneas, foram uma forma de protesto contra a política educativa do Governo, que desorganiza e pretende dividir a carreira docente em duas, que cria um exame para o ingresso na profissão e enreda os professores num complexo e inútil processo de avaliação...
E os estudantes do secundário, que recebem a ministra com protestos? Todos comunistas e sindicalistas! É «ódio», seguramente, e não qualquer revolta relacionada com o Estatuto do Aluno, um verdadeiro código penal nas escolas, com o Regime de Faltas ou com as miseráveis condições de muitas das escolas do País...
E o que dizer de uma reunião do Conselho de Ministros em Guimarães ser recebida com uma concentração denunciando que aquela cidade minhota «está mais pobre»? O que é isto senão «ódio»? Só porque naquele concelho e naquela região os salários são muito inferior à média nacional e o desemprego superior?... Como se isto justificasse tamanho «ódio»... Então e as populações de Anadia e Vouzela, que assobiaram o primeiro-ministro só porque o seu Governo encerrou as urgências hospitalares?... Então e...
Só há uma coisa que não bate certo nisto tudo. Os comunistas e sindicalistas estão em todo o lado...

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