Votos de confiança

Miguel Tiago
 

Miguel Tiago

Agora que está expresso o descontentamento de forma que eles entendem, já se vai por aí assistir às habituais tentativas de branqueamento do papel do PS ao longo destes últimos anos. Virão as lágrimas de crocodilo, as vitimizações ao estilo do “menino-guerreiro”, virá por atacado o papão do comunismo e o apelo à maioria absoluta do PS para impedir a maioria de direita. Virão as caras simpáticas, os modos menos arrogantes e a humildade fingida de quem tudo faz para não perder o poder. A mudança de estilo afinal vem comprovar o carácter arrogante de um PS que usou o poder para desfigurar o Estado, para o desmontar e para cilindrar os direitos mais elementares dos trabalhadores, pois que muda o estilo para tentar manter a política.
 
Se há coisa que estes resultados das europeias bem comprovam, é evidentemente o descontentamento gerado por políticas de direita aplicadas pelo PS que, depois de contar com um capital de esperança para a mudança, decidiu nada mudar e, pelo contrário, agudizar o pendor neo-liberal das políticas que PSD e CDS já levavam a cabo. Um descontentamento profundo que falou a linguagem dos partidos do sistema, que trouxe às urnas aquilo que o PCP e a CDU há muito vinham trazendo para a sua intervenção e, principalmente, trouxe às urnas a luta dos portugueses contra estas políticas, assim penalizando fortemente o PS e comprimindo a direita num espaço eleitoral cada vez mais curto e mais limitativo da sua influência.
 
E se há coisa que por muito que queiram agora, como de costume, os comentadores e fazedores de opinião esconder, é que a CDU foi a força que, não sustentando o seu resultado no descontentamento mas sim na confiança e no projecto de ruptura, alcançou uma subida em todos os distritos e contrariou o dogma do definhamento, uma vez mais se afirmando como a grande força da esquerda com projecto em Portugal.
 
Mas há mais reflexões que nos cabe fazer:
 
a ligação concreta que a CDU e as forças que a compõem fez ao longo dos anos, dentro ou fora dos períodos eleitorais, entre a sua intervenção institucional ou orgânica e os reais problemas das populações, reforçando as suas lutas e colocando-as no plano central da política nacional, é um elemento estrutural do seu crescimento e atinge uma expressão de dimensão absolutamente própria de uma força como a CDU na marcha de dia 23 de Maio;
 
o crescimento da CDU traduz muito mais do que o aumento numérico do número de eleitores que depositaram um voto; significa uma consolidação da confiança e um reconhecimento social e político do trabalho do PCP, do PEV, da ID e daqueles que com essas estruturas trabalham, que assenta essencialmente na convicção profunda de que é possível construir uma vida melhor para os portugueses. E essa convicção difere de um mero descontentamento ou protesto porque ela conflui, não só para o combate às políticas de direita, mas também para a construção da alternativa e da necessária ruptura, assim confirmando a CDU como o eixo da construção de uma alternativa de esquerda.
 
E é também por tudo isso que partimos para o dia-a-dia de empenho e entusiasmo redobrado, com a clara convicção de que trilhamos o caminho certo para a construção de uma vida melhor com as soluções da CDU.