Opinion Makers

Regina Marques
 

Regina Marques

Não se pode esquecer que os media são a arena onde lutam os produtores do acontecimento para influenciar o público. Os opinion makers, jornalistas e muitos ditos especialistas de várias áreas, nos seus comentários e opiniões tecem a arquitectura da orientação política. Como mediadores entre a realidade e o público, não é a dita verdade ou objectividade dos factos que transita para o público. O que transita é uma complexa teia de informações e concepções que eles têm da vida e do mundo.

A confusão entre informação, comentário, opinião, é cada vez maior. As linhas de fronteira entre a notícia, a reportagem e o comentário são ténues e isto interessa os detentores dos media e confunde os diferentes públicos. Este papel persuasivo dos media a que se juntam todos os dias as sacrossantas sondagens, é resultado e motor desta tendência neoliberalizante para a descompartimentação das instituições e sua pulverização. Este é um dado preocupante e é tanto mais inquietante quando se assiste nas instituições locais e globais a uma desregulamentação geral das estruturas e à menorização do papel da participação e da luta colectiva, sindical ou outra. É uma questão nova, com que estamos confrontados, tanto no plano institucional como também na própria reflexão e pensamento das pessoas. E isso obriga-nos a escalpelizar mais esta questão porque afinal o nosso mundo e a nossa visão do mundo é dia a dia influenciada, embora transitoriamente mas com muita eficácia.

Esta conversa vem a propósito do comentário que ouvimos logo a seguir ao debate sobre a política fiscal e finanças organizado pela TSF em que participaram MFL e JS. Depois de terem sido apresentados extractos das intervenções de MFL (que insistiu na contenção da despesa pública) e Jerónimo de Sousa que de forma precisa, quantificada e exaustiva mostrou como seria viável arrecadar mais receitas para o Estado, aplicando uma política fiscal justa, o comentador de serviço, dito especialista em finanças, resume a controvérsia entre os dois candidatos dizendo simplesmente "de um lado estão aqueles que podem vira a ser governo e por isso "usam de prudência e cautela nas propostas", e do outro, os outros que não podendo vira a ser governo fazem propostas "inexequíveis". A contenção de despesas e de investimento público seria então para o referido comentador o caminho natural já que a arrecadação de receitas é sempre pouco fiável. Claro está que nem tão pouco se referiu à correcção e à validade das premissas trazidas por Jerónimo de Sousa, porque da competência, seriedade e honestidade da reflexão nem achou interessante falar. Muito menos foi capaz de desocultar, para quem o ouvia na rádio, que a leitura da situação fiscal, feita pelos dois partidos, se fez e faz através de lentes e paradigmas que têm em si as marcas de classe, da classe que um e outro antagonicamente defendem.

Por isso o comentário esteve cheio de ideias preconcebidas, desligadas dos textos apresentados por ambos, vindas do terreno ideológico e político em que o próprio comentador se move, que mais não fez que importar informação sua para o debate em que os outros deveriam ser os protagonistas. Assim se gera e gerou mais informação distorcida e manipulatória.

Comentando sobre o comentário, com o direito que temos de o fazer, usando os nossos próprios óculos, diremos que, se continuarem as políticas fiscais preconizadas por MFL e Sócrates, continuarão a ser protegidos os poderosos banqueiros e a alta finança nacional e internacional, e penalizados os consumidores em geral. Manter-se-á a crise, o desemprego, a inqualificável distância de qualidade de vida e rendimentos entre um punhado de portugueses e a maioria do povo. Se, ao invés, com mais CDU, se fizer a ruptura necessária, aí temos Jerónimo de Sousa, o PCP e a CDU, com politicas económicas e fiscais que valorizam o investimento produtivo nacional, o emprego e uma tributação fiscal justa, para desenvolver o País, e não para encher os cofres daqueles que à sombra da globalização individualista e capitalista pulverizam os nossos recursos.

Veremos então quem pode e deve ser Governo! Ao povo, cabe a palavra e o voto esclarecidos.