O bom remédio

Vítor Dias
 

Vítor Dias

No ínicio da semana passada, o número de vagas definidas para o ensino superior no próximo ano lectivo teve natural destaque na comunicação social. Entre os dados então divulgados, foi referido, para minha grande incredulidade e espanto, que em Medicina, por comparação com o ano anterior, se registava um aumento de 40-vagas-40 (!!!), logo se explicando porém que não eram propriamente vagas como outras quaisquer já que se destinavam sobretudo a candidatos já diplomados.

Como não sou especialista na matéria nem estou obrigado a acompanhar a evolução de todos as questões nacionais ao longo do tempo, na ocasião deu-me para, generosamente, substituir a minha inicial incredulidade e espanto pela ideia de que, quem sabe, talvez os ligeiros e sempre muito comedidos aumentos de vagas nos últimos anos (sempre por comparação com o ano anterior), gota a gota, tivessem retirado gravidade ou premência a um problema – a falta de médicos (e de enfermeiros) - que, justamente, para aí há uns 10 anos, ganhou foros de verdadeiro escândalo nacional.

De facto, para quem já não se recorde, tornou-se então patente que, apesar de atempadas advertências, por responsabilidade de governos do PSD e do PS, nem o Ministério da Educação nem o Ministério da Saúde levaram a sério os estudos que faziam a clara demonstração de que a prevísivel chegada de centenas e centenas de médicos à idade legal para a sua reforma iria originar uma dramática falta de clínicos no país que, como se viu depois, obrigou à contratação de numerosos médicos estrangeiros, designadamente espanhóis. Sobre esta temática, qualquer consulta ou pesquisa no sítio do PCP porá em evidência a extrema atenção que o Grupo Parlamentar do PCP prestou a este grave problema e que, se não me engano, chegou a culminar na aprovação pela AR de uma sua proposta de resolução instando o governo a uma resposta séria e estruturada a esta preocupante situação.

Infelizmente, a história não acaba aqui pela simples razão de que, na passada quinta-feira, tive a amarga comprovação de que, nestas matérias, mais vale ser desconfiado do que generoso como eu resolvi ser a respeito das falsas 40 vagas a mais.

É que, nesse dia, a manchete do Público proclamava à largura de quatro colunas, que «Médicos uruguaios vão preencher vagas no Algarve e no Alentejo».

Entretanto, quem devia explicar alguma coisa não explica nada, as culpas parece que continuarão a morrer solteiras e, na próxima campanha eleitoral, PS e PSD vão certamente falar-nos, um como estivesse no governo só há quatro anos e meio e outro como se nunca lá tivesse estado.

Ora, para acabar de vez com esta insolente fantochada, já que estamos a falar de saúde, só há um bom remédio: votar CDU.