Castelo Branco

Em defesa do Serviço Nacional de Saúde

24 Setembro

Saude2

Ontem, dia 23 de Setembro, pelas 14.30, a CDU, numa ação de campanha
frente ao Hospital Amato Lusitano em Castelo Branco, através da primeira candidata pelo distrito, Mónica Ramôa  fez o diagnóstico da saúde no distrito de Castelo Branco  e apresentou as  propostas da CDU para o setor :

Reforçar o SNS, garantir o acesso de todos aos cuidados de saúde

A política prosseguida pelos governos PS e PSD/CDS de desresponsabilização do Estado das suas competências e de desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), traduziu-se no progressivo desinvestimento público, na redução da capacidade de resposta do SNS, na desvalorização profissional e social dos profissionais de saúde, na transferência de custos da saúde para os utentes e na privatização, como é exemplo recente a entrega de hospitais públicos às misericórdias.

A estratégia privatizadora da saúde, suportada numa visão mercantilista, conduziu à concentração, redução e encerramento de serviços e valências em centros de saúde e hospitais, à enorme limitação no acesso a medicamentos ou a determinados tratamentos e à negação do acesso a cuidados de saúde, por via dos aumentos brutais das taxas moderadoras e da retirada do transporte de doentes não urgentes.

Não escapa o Distrito de Castelo Branco a essa ofensiva. Muita tem sido a intervenção no quadro político e institucional, nomeadamente na AR na defesa dos serviços no Distrito. O PCP que tem vindo a acompanhar a situação no distrito realizou uma jornada sobre as questões da saúde em Janeiro deste ano e na qual muitos foram os problemas que foram expostos e sobre os quais interviemos e questionámos o Governo, destacando o projecto de resolução sobre a manutenção do Hospital do Fundão na esfera pública, transferência de competências para autarquias e muitos outros sobre recursos e meios técnicos e humanos. Dos muitos problemas são bem visíveis:

A situação deficitária dos meios humanos tanto no que respeita a trabalhadores operacionais e administrativos, onde se recorre aos trabalhadores CEI para desempenhar funções permanentes como também no que respeita a enfermeiros e médicos, com particular relevância nestes últimos com cerca de cinco mil utentes sem médico de família, a saber: 3292 no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) da Cova da Beira, 1560 no ACES da Beira Interior Sul e 290 no ACES do Pinhal Interior Sul. Realce também para a situação das urgências no Hospital da Covilhã tendo de recorrer muitas das vezes ao trabalho temporário através da contratação de médicos à hora.

Questões como o congelamento das carreiras, o aumento do horário de trabalho, o não pagamento de horas extraordinárias, a redução de dias de férias ou o corte nos salários são outras das preocupações que têm necessariamente reflexos nas condições de trabalho.

A existência de extensões de saúde que apesar de se manterem abertas viram reduzidos os serviços prestados em dias registando-se cada vez mais casos de desmantelamento de serviços e de perda de valências ou falta de equipamentos, ao longo dos últimos anos como aconteceu nos SAP, nas cirurgias e serviço de urgência, unidades de internamento ou ainda os meios auxiliares de diagnóstico precários como o ECG e RX.

Os diversos protocolos e acordos feitos entre as ULS e juntas de freguesias diversas para o mais variado tipo de apoio ao funcionamento como pagamentos de despesas correntes (água, luz), materiais de higiene, limpeza e administrativo e até de pessoal, numa lógica de transferência de competências que devem ser mantidas na esfera do poder central.

Também na resposta dos cuidados continuados e em particular numa região com altos níveis de envelhecimento urge o reforço da capacidade de resposta pública.

A CDU defende

1.1. Um Serviço Nacional de Saúde, universal, geral e gratuito:

Combater a privatização da saúde, responsabilizar o Estado

  • Gestão pública dos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde, rejeitando qualquer entrega da sua gestão a entidades privadas e pondo termo à promiscuidade entre público e privado.
  • Defesa da participação, do envolvimento e da auscultação dos profissionais de saúde e suas organizações representativas, sindicatos, ordens, associações, dos utentes/doentes e das autarquias na definição das orientações estratégicas na política de saúde.
  • Fim do processo de transferência de hospitais públicos para as misericórdias, como o do Fundão, e reversão para o SNS dos hospitais que entretanto tenham sido já transferidos para estas instituições.
  • Revogação das Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo C e a rejeição de transferência para entidades privadas da prestação de cuidados de saúde primários.
  • Reforçar a capacidade de resposta do SNS, para que, progressivamente, sejam dispensadas as contratações de serviços a privados (telemedicina, contratação de empresas para colocar profissionais, concessão de serviços de imagiologia de hospitais, entre outros).
  • Rejeição da municipalização da saúde, por se integrar na estratégia de reconfiguração do Estado, da sua desresponsabilização na garantia do direito constitucional à saúde e de constituir um passo no processo de privatização, e provocar a desintegração da prestação de cuidados de saúde.
  • Reforço da capacidade do SNS através da alocação dos recursos humanos, técnicos e financeiros adequados, para alcançar objectivos concretos de redução do tempo de espera para consulta, cirurgia, assim como para exames e tratamentos, de forma a assegurar cuidados de saúde de qualidade e em tempo útil.

1.2. Financiamento

Integração de todos os ”hospitais empresa” do Serviço Nacional de Saúde no sector público administrativo.

  • Financiamento adequado do SNS, desenvolvendo plenamente as suas potencialidades, quer através do total aproveitamento da capacidade instalada, quer do reforço dos recursos necessários para garantir a prestação de cuidados de saúde com elevados padrões de qualidade, proximidade e acessibilidade dos utentes.
  • Revogação das taxas moderadoras que constituem um verdadeiro impedimento no acesso à saúde para muitos portugueses.
  • Revogação do regulamento de transporte de doentes não urgentes e garantia por razões clínicas ou económicas a todos os utentes, a título gratuito, de acesso aos cuidados de saúde.
  • Definição de um plano de investimentos plurianual para a construção de novos equipamentos de saúde e requalificação dos existentes, que assegure a prestação de cuidados de saúde com eficiência, qualidade e proximidade.

1.3. Cuidados de Saúde Primários

Garantia do médico de família para todos os utentes, assim como a implementação do enfermeiro de família em todo o território nacional. Medidas a concretizar num espaço temporal de dois anos.

  • Desenvolver uma verdadeira política de saúde pública, através da criação da rede de centros de saúde de base concelhia dotados de autonomia, de modo a garantir a proximidade aos utentes, pondo fim aos mega-agrupamentos de centros de saúde, dotados de recursos humanos, técnicos e financeiros adequados a uma estratégia política de prevenção da doença e promoção da saúde, e articulados e geridos com os hospitais garantindo aos utentes o acesso aos cuidados hospitalares.
  • Reforço dos recursos alocados aos Cuidados de Saúde Primários (CSP), tornando-os na estrutura central do Serviço Nacional de Saúde, no acompanhamento dos utentes, no diagnóstico precoce e no encaminhamento dos utentes para outros níveis de cuidados, libertando os hospitais para a prestação de cuidados de saúde diferenciados e mais complexos, retirando-lhes a pressão a que estão sujeitos devido à falta de capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários.
  • Pôr fim às desigualdades existentes actualmente entre Unidades Saúde Familiar (USF), Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) e Unidades de Cuidados Continuados (UCC), no que respeita aos recursos humanos, materiais e técnicos alocados, às condições físicas das instalações.
  • Assegurar nos cuidados de saúde primários respostas ao nível da saúde oral, visual e auditiva, saúde mental e da medicina física e de reabilitação.
  • Assegurar o acesso aos direitos sexuais e reprodutivos em todo o território, designadamente quanto ao planeamento familiar, ao acesso a meios de contracepção, à interrupção voluntária da gravidez, ao acompanhamento na gravidez, à saúde materna e ao acesso às técnicas de procriação medicamente assistida.
  • Reforço do financiamento público na área da saúde pública com o objectivo de, gradualmente, atingir a dotação de 5% do orçamento do Ministério da Saúde em 2020.
  • Adopção e implementação de uma orientação política de prevenção das doenças cardiovasculares, respiratórias, oncológicas, diabetes, VIH/SIDA, ao nível da saúde mental e promoção de comportamentos saudáveis na alimentação e actividade física.
  • Alargamento da rede pública de cuidados continuados integrados e de cuidados paliativos, através do reforço do número de camas e de equipas.
  • Reabertura dos serviços de proximidade encerrados e reposição dos horários de funcionamento.

1.4. Cuidados Hospitalares

Reorganizar a rede hospitalar tendo, designadamente, como objectivos: a articulação com os restantes níveis de cuidados de saúde (primários, continuados e saúde pública) com base na prevalência do direito à saúde (com a revogação da Portaria 82/2014); pôr fim aos centros hospitalares criados com o único objectivo, de reduzir serviços, camas e despesa e com áreas de referência definidas sem critério; um planeamento assente nas características demográficas, epidemiológicas, na acessibilidade física, na evolução das tecnologias e ciências médicas e em redes de referenciação, garantindo a oferta de cuidados de saúde hospitalares completos em todo o território com eficiência e qualidade.

Estatuto do doente crónico

Criação de um estatuto do doente crónico que lhe assegure direitos específicos na área da saúde, do trabalho e da segurança social e que seja criada a tabela de incapacidades e funcionalidades em saúde, porque os atestados de incapacidade têm em conta a tabela dos acidentes de trabalho que é muito redutora para muitas patologias crónicas, prejudicando os doentes.

1.5. Saúde Mental

  • Assegurar um financiamento claro dos serviços de saúde mental para preencher as graves carências existentes.
  • Implementar a distribuição de recursos humanos nos serviços de psiquiatria e saúde mental hospitalares em todos os distritos em função dos ratios populacionais.
  • Assegurar, de facto, a continuidade de cuidados, médicos, assistenciais, ocupacionais e residenciais, em função das necessidades de cada pessoa portadora de doença mental, dando cumprimento a leis há anos por cumprir.
  • Apoiar as instituições privadas de solidariedade social no âmbito da saúde mental segundo critérios equitativos, em função de necessidades da comunidade e de respostas provadas.
  • O investimento numa rede de saúde mental, na criação de respostas específicas integradas nos cuidados de saúde primários e nos cuidados continuados integrados e no alargamento de equipas de profissionais de proximidade.
  • Garantir um acompanhamento precoce das famílias em proximidade, tendo em conta o acréscimo de casos de perturbação mental em períodos de crise.

1.6. Saúde dos Trabalhadores

Aprofundar o desenvolvimento de uma adequada rede de serviços de segurança e saúde no trabalho, qualificando as actividades desenvolvidas nos locais de trabalho, da responsabilidade directa das empresas, orientada para os trabalhadores e com a sua participação indispensável.

1.7. Profissionais de Saúde

  • Adequar, a oferta educativa ao nível do ensino superior na área da saúde às necessidades de profissionais de saúde do SNS.
  • Valorizar o internato médico, assegurando o acesso à especialidade a todos os licenciados em medicina, assim como a totalidade da capacidade formativa em serviços do SNS.
  • Reforço da capacidade do SNS através da alocação dos recursos humanos, técnicos e financeiros adequados, para alcançar objectivos concretos de redução do tempo de espera no acesso aos cuidados de saúde, assim como para exames e tratamentos, de forma a assegurar cuidados de saúde de qualidade, com segurança e em tempo útil.
  • Contratação dos profissionais de saúde em falta através de vínculo público de nomeação em lugar do quadro para os serviços de saúde, combatendo todas as formas de precariedade.
  • Integração de todos os profissionais com contratos individuais de trabalho em contactos de unções públicas, inseridos numa carreira com vínculo público.

Valorização profissional, social e remuneratória dos profissionais de saúde, garantindo os seus direitos, a integração numa carreira e a sua progressão, o seu desenvolvimento profissional, motivando-os e assegurando-lhes as condições de trabalho adequadas, impedindo desta forma a fuga para os privados e para o estrangeiro.

1.8. Política do medicamento

  • Dispensa gratuita nos centros de saúde e nas farmácias dos medicamentos para os doentes crónicos.
  • Garantia do acesso à terapêutica mais adequada aos utentes/doentes, incluindo os novos medicamentos quando haja comprovação clínica da sua vantagem.
  • Criação do Formulário Nacional de Medicamento de Ambulatório e revisão do Formulário Nacional do Medicamento.
  • Aumentar a quota de medicamentos genéricos para os 40% em valor, o que levaria só por si a uma poupança de quase 200 milhões de euros para o SNS e mais de 100 milhões de euros para os utentes.
  • Instituir o concurso público para o fornecimento dos medicamentos em ambulatório.

Criação do Laboratório Nacional do Medicamento com a vertente de produção e investigação, dotando o Estado de um instrumento que potencia a redução de despesa, a criação de conhecimento e a afirmação da independência e soberanias nacionais.

1.9. Prevenir e tratar a toxicodependência e o alcoolismo

A política de direita conduziu à diminuição e pulverização das capacidades fiáveis de análise dos problemas da toxicodependência e do alcoolismo, a uma grave redução e mesmo ao desmantelamento de muitos instrumentos de prevenção e tratamento destes flagelos sociais, como sucedeu com o programa de troca de seringas. A “reestruturação do próprio IDT – Instituto das Drogas e da Toxicodependência, visando o corte de meios e competências, resultou na diminuição da capacidade de resposta e de estudo e monitorização nesta matéria.

A legislação progressista que equiparou as toxicodependências a uma doença, cuja elaboração foi fortemente influenciada pelo PCP, colocou o País numa rota de contenção e reversão destes problemas, trajectória que foi interrompida com o agravamento da situação social e a política governamental, que urge retomar.

Reactivação do IDT, Instituto da Droga e da Toxicodependência, estrutura nacional de resposta integrada aos problemas das toxicodependências e do alcoolismo, com garantia da sua autonomia técnica e de gestão, e a dotação com os meios indispensáveis às suas responsabilidades.

Para que tal seja possível é essencial:

  • o reforço da rede pública de prevenção, redução de riscos e minimização de danos e tratamento;
  • a reactivação e reforço de centros de apoio e unidades móveis;
  • o reforço da prevenção, designadamente em meio escolar;
  • a concretização da intervenção em meio prisional;
  • a dinamização da reinserção social, com oportunidades de formação profissional e emprego.

A política de prevenção e combate ao alcoolismo exige – face aos problemas complexos que comporta, associados ao quadro sóciocultural envolvente – uma cuidadosa gestão da oferta de serviços, a atribuição dos meios necessários e a concretização de medidas de prevenção e dissuasão dos consumos excessivos.

Estas políticas e acções deverão ser promovidas em estreita articulação com o Serviço Nacional de Saúde.

1.10. Gestão do Serviço Nacional de Saúde

  • Garantia da participação democrática e desgovernamentalização dos órgãos de gestão, de direcções de serviço e de chefias dos estabelecimentos públicos de saúde que integram o SNS (sejam cuidados de saúde primários, sejam cuidados hospitalares), substituindo as nomeações por concursos públicos, privilegiando o rigor, a transparência e o mérito.
  • Defesa da participação, do envolvimento e da auscultação dos profissionais de saúde e suas organizações representativas, sindicatos, ordens, associações, dos utentes/doentes e das autarquias na definição das orientações estratégicas na política de saúde.