Lisboa | Comício com Jerónimo de Sousa enche à pinha Ateneu de Vila Franca de Xira

Há ainda muito voto a ganhar

23 Setembro

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A CDU cresce e avança, cresce em mobilização, em apoio, em confiança. O comício desta quarta-feira, 23, no Ateneu Artístico Vilafranquense, em Vila Franca de Xira, com a participação de Jerónimo de Sousa, disso mesmo deu testemunho com uma enchente como há muito por ali não se via.

O facto não escapou ao Secretário-Geral do PCP que logo a abrir a sua intervenção, a última da noite, sublinhou ser «preciso recuar décadas para encontrar um ponto de comparação com este comício» em que participaram mais de 500 pessoas, lotando por completo a capacidade da sala e obrigando muitos a ficar de pé.

Não foi porém apenas a elevada participação, com significativa presença juvenil, que fez desta uma grande acção de campanha eleitoral, onde em grande destaque estiveram as questões relacionadas com os micro, pequenos e médios empresários. O que conferiu ainda maior relevância a esta jornada foi também o espírito de entusiasmo e combatividade nela vividos, com momentos de vibração colectivo, como foi o que marcou a entrada do líder comunista na sala sob a prolongada ovação de uma plateia que se levantou erguendo bandeiras, entre gritos «CDU» e o compasso afinado da palavra de ordem «CDU avança, com toda a confiança».

Nessa altura actuava já em palco o quinteto «5 Caminhos», formação com excelentes executantes que encantaram o público com um repertório de grande qualidade preenchido por canções incrivelmente actuais que nos falam «dos que partem e deixam a Galiza sem homens», poema celebrizado pela voz de Adriano Correia de Oliveira, ou desse outro poema – este de Zeca Afonso – que nos diz que «o que faz falta é avisar a malta, agitar a malta, libertar a malta».

Esclarecer e mobilizar

Ouvir e esclarecer é, aliás, o que têm feito sem descanso os activistas e simpatizantes da CDU, desenvolvendo uma campanha séria e convincente de que é possível e é real a política alternativa pela qual os comunistas e seus aliados batalham, como referiram José António Gomes e Anabela Carvalheira, mandatários da Coligação pelos concelhos de Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos, respectivamente. A ambos coube presidir ao comício, começando por chamar para a mesa os restantes mandatários (pelos concelhos de Alenquer e Azambuja), os candidatos da CDU pelo distrito de Lisboa, bem como dirigentes locais, regionais e nacionais do PCP e do PEV.

Depois da candidata Isabel Braga (Arruda) ter identificado algumas das consequências mais negativas da governação nestes quatro anos, como na saúde, que encareceu e em que é crescente a falta de médicos, foi a vez de Nuno Libório (Vila Franca de Xira) completar o quadro de destruição provocado pela política deste Governo, lembrando as dezenas de empresas que encerraram, os vínculos precários que proliferam, os serviços públicos que fecharam portas, ou o esbanjamento de recursos em PPP como acontece com o Hospital distrital de V.F. de Xira.

O jovem comunista Duarte Alves, por seu lado, abordou as dificuldades e a forma como os jovens têm sentido também os efeitos desastrosos desta política – dos cortes na Educação às turmas sobrelotadas passando pela emigração forçada -, chamando a atenção para o facto de as forças que integram a CDU terem estado sempre ao lado da luta dos estudantes em defesa dos seus direitos, como na Secundário Alves Redol. Já Dulce Arrojado, do PEV fez um retrato do que foram estes quatro anos de «mentiras» do Governo PSD/CDS e sua acção destruidora de que resultou «retrocesso e empobrecimento», acusando o PS de não ter estado no combate a esta política e, no fundo, «não se diferenciar» do que nela é estrutural.

Valorizando muito o «clima de simpatia», a «emotividade» e «confiança» que envolve a campanha da CDU, de que o comício era de resto um bom exemplo, Jerónimo de Sousa iniciou a sua intervenção anotando contudo que tal atributo só ganhará «expressão verdadeira se cada um pensar que há ainda muito voto a ganhar».

«Os bons ambientes não ganham eleições, a simpatia é importante mas não se traduz imediatamente em votos e por isso esta não é tarefa acabada», advertiu, sustentando que «há que dar muito ao dedo e à perna», «há que fazer tudo para reforçar a CDU».

Desenvolvida a argumentação sobre o que está em jogo no próximo dia 4 de Outubro – prosseguir o mesmo caminho ruinoso do PS, PSD e CDS ou abrir um «caminho novo» que afirme uma «política alternativa, patriótica e de esquerda» -, e depois de traçado um balanço destes quatro anos, o líder comunista deteve-se nas estatísticas divulgadas nesse dia pelo INE relativas ao valor do défice e da dívida, que indicam que aquele ficará igual ao de 2011 e esta está a aumentar exponencialmente ao ritmo de oito milhões por dia.

E depois de lembrar que foi em nome da dívida e do défice que se cortaram salários e reformas, reduziram direitos, e arruinaram pequenos e médios empresários e agricultores, questionando-se sobre para onde foi o dinheiro, concluiu que «foi direitinho para o grande capital», que «arrecadou nestes anos 20 mil milhões».

Outro rumo

Alvo da crítica de Jerónimo de Sousa foi também o PS pelas suas posições em relação à renegociação da dívida – «varre a questão para debaixo do tapete», observou -, como em relação ao Tratado Orçamental, aos direitos dos trabalhadores e à Segurança Social. E sem deixar de reconhecer que o PS até tem propostas diferentes da maioria PSD/CDS na «forma, no ritmo e no grau», perguntou contudo se «é isto que Portugal precisa», concluindo uma vez mais que não. «O que o País precisa é de romper com este caminho de desastre, criar mais riqueza, reforçar o aparelho produtivo, renegociar a dívida, repor o que foi roubado, devolver direitos», asseverou, elencando algumas das medidas propostas pela CDU.

Entre as quais está também, particularizou, a defesa de uma outra política fiscal que, por exemplo, no caso das PME, seja «conforme aos seus rendimentos e condições estruturais, com o fim do Pagamento Especial por Conta e rendimento tributável avaliado por critérios técnico-científicos».

Mas também com o «IVA da Restauração nos 13%, com o IVA de Caixa, e com uma Autoridade Tributária que respeite os empresário», acrescentou Jerónimo de Sousa, antes de detalhar outras propostas da CDU dirigidas para as PME, como seja a defesa de «uma avaliação patrimonial imobiliária que corresponda aos valores de mercado, para não inflacionar o IMT, o IMI e as rendas».

«A aproximação dos preços da energia, comunicações e telecomunicações, seguros e outros custos e factores de produção à média europeia», é outra das medidas preconizadas pela CDU, sublinhou o dirigente máximo do PCP, que defendeu ainda «uma política de crédito com instrumentos financeiros e condições (garantias, spreads, comissões) para capitalização, investimento ou tesouraria, ajustada às pequenas empresas», bem como um «efectivo apoio social para pequenos empresários que sofreram o encerramento forçado das suas empresas».

Em suma, uma política em tudo diferente da que tem sido executada por PS, PSD e CDS e que é responsável pela asfixia às pequenas e médias empresas, por lhes cortar o crédito, negar-lhes o acesso aos fundos comunitários, dificultar-lhes o direito a aceder à energia, às comunicações, ao gás e aos combustíveis a preços competitivos, além de estar «sempre do lado das grandes distribuidoras no processo de esbulho» a que aquelas são sujeitas.