Beja | Centenas em jantar com Jerónimo de Sousa em Serpa

A política de direita nunca dará bons frutos

24 Setembro

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Uma sala cheia no parque de exposições de Serpa recebeu, na noite de quinta-feira, 24, o Secretário-Geral do PCP, para quem esta volta pelo Baixo Alentejo «mostra que a CDU está bem, a crescer». No entanto, alertou, é necessário prosseguir a mobilização para o voto que conta para derrotar a política de direita.

Num jantar em que o número de participantes superou largamente as expectativas iniciais, o prato servido foi a demarcação do PCP-PEV face às demais forças políticas. Desde logo, adiantou Tomé Pires, presidente da Câmara Municipal de Serpa que apresentou e chamou para a mesa do comício dirigentes locais e nacionais do PCP e do PEV e alguns candidatos da CDU pelo círculo eleitoral de Beja, olhando para esta iniciativa, «realizada por gente movida apenas pela vontade».

Este é «um pequeno exemplo que mostra que os partidos não são todos iguais», acrescentou. Mas não é o único, prosseguiu, recordando que «temos um deputado que fez [na Assembleia da República] o triplo do trabalho dos deputados eleitos nas listas do PS e do PSD».

O deputado a que se referia o autarca de Serpa é João Ramos, cabeça-de-lista da CDU por Beja, o qual, usando da palavra, reclamou ter sido «a única voz em defesa do distrito e das populações», justamente num parlamento em que «os deputados do PS e do PSD ou se puseram de fora das discussões, ou votaram contra ou abstiveram-se nas propostas apresentadas pelo PCP e pelo PEV».

Prática que justifica o reforço do PCP-PEV, considerou João Ramos, antes de apelar à «mobilização dos desiludidos, daqueles que estão desencantados com o PSD, PS e CDS», de todos quantos se identificam com a alternativa e, por isso, devem «votar na foice e no martelo ao lado do girassol».

A assinalar a diferença entre a CDU e os partidos que com a troika agravaram a política de direita, está, igualmente, o facto de os eleitos, activistas e apoiantes comunistas e ecologistas andarem em contacto directo com as populações ao longo de toda a legislatura. «Durante todo o mandato e não apenas quando chegam as eleições», notou, por seu lado, Heloísa Apolónia, deputada e candidata que sucedeu a João Ramos na tribuna.

Dessa ligação quotidiana à realidade, retiram os deputados eleitos nas listas da CDU valiosos ensinamentos, a actualidade e pertinência da sua intervenção, salientou em seguida Heloísa Apolónia. «Por isso sabem o que sente o povo e quais os seus interesses», explicou, dando vários exemplos, da luta pela manutenção de serviços públicos «que prejudicam as pessoas e o desenvolvimento local», aos «apoios que não chegam para potenciar a nossa produção agro-alimentar».

Orientação estéril

Manifestando-se satisfeito pela mobilização e bom ambiente reflectidos na iniciativa em Serpa, bem como pela «volta por Beja e Moura» que evidenciou a possibilidade de crescimento da CDU, Jerónimo de Sousa advertiu, porém, que «na semana e meia que falta» é preciso ganhar mais votos no PCP-PEV.

Votos que contam para contrariar a alternância sem alternativa protagonizada, à vez, por PS e PSD, com ou sem o CDS, os quais, acusou o Secretário-Geral do PCP, «estão desesperados para salvar a política de direita». Uma política que «nunca dará bons frutos», como «uma figueira brava, mesmo enchertada de macieira, nunca dará maçãs», aludiu.

Numa terra onde boa parte da população tem raízes no trabalho agrícola, apesar de a terra continuar a faltar a quem a quer trabalhar, a metáfora foi percebida. Como o foram também as críticas de Jerónimo de Sousa a uma das «mentirolas mais repetidas pelo PSD, CDS, e pelo PS, nas sucessivas eleições ao longo destes 39 anos».

O Secretário-Geral do PCP referiu-a-se às «insistentes e reiteradas declarações de amor pelo interior», às «sistemáticas, insistentes, reiteradas promessas de combate às assimetrias regionais». Palavras repetidas de «Trás-os-Montes ao Douro, à Beira serrana, ou aqui no Alentejo profundo», mas que contrastam com a realidade agravada nestes últimos quatro anos de «um brutal agravamento das assimetrias regionais», em que «todas as suas políticas trouxeram novos estrangulamentos, novas carências, novos problemas, sem resolver o que quer que seja».

«E depois vêm os estudos dizer que o interior do País está em extinção, cada vez mais despovoado e envelhecido. Mas qual é o mistério?», questionou, para logo em seguida responsabilizar pela situação «os partidos do “arco da desertificação e da ruína” – PS, PSD e CDS», que «gostam muito de falar das “assimetrias regionais” quando chega o tempo de eleições», mas que passada a ida às urnas, rapidamente dissolvem a «demagogia» «no necessário “realismo” das políticas exigidas pelo grande capital».

Jerónimo de Sousa defendeu, por isso, que «a correcção das assimetrias regionais exige um leque amplo de políticas integradas e dinamizadas regionalmente«, assim como «Orçamentos do Estado e fundos comunitários com forte descriminação positiva dos territórios atingidos pela desertificação». Mas carece sobretudo da criação de «oferta de emprego, emprego estável, bem remunerado e com direitos, e isso só com outras políticas económicas viradas para a actividade produtiva», reclamou.

«Em vez disso Passos e Portas colhem Framboesas», gracejou o Secretário-Geral do Partido, aludindo a uma recente iniciativa de campanha da coligação PSD/CDS. Tratando-se dos «cúmplices activos na liquidação da produção leiteira nacional (…), como não podia deixar de ser: cada cavadela, cada minhoca…», continuou, relatando que na visita o primeiro-ministro e o seu vice «confrontaram-se com trabalhadores do Paquistão, Nepal, Bangladeche, Índia, que numa ocupação sazonal de 6 meses, ganham 2,27 euros por hora!».

Em vez de «se darem ao trabalho de «questionar o salário desses trabalhadores? A sua precariedade? As condições em que vivem? Se descontam ou não para a Segurança Social?», de fazerem as contas e constatarem que «num trabalho sazonal, trabalhando 8 horas por dia, seis dias por semana, num mês ganhavam 472 euros, menos que o salário mínimo nacional (505 euros), não quiseram assumir a ilegalidade da situação e, farsantes, fizeram de conta que não percebiam as verdadeiras razões porque não há trabalhadores portugueses nesse trabalho».

O «modelo laboral que [Passos e Portas] tão empenhadamente têm vindo a concretizar – mão-de-obra barata, precária e desqualificada», esta «”dignidade” que julgam que o trabalho e os trabalhadores merecem», é «também o modelo presente no Programa do PS, naturalmente escondido com duas pseudo-propostas: uma à situação dos trabalhadores pobres e outra à precariedade/contratos a prazo», denunciou ainda o Secretário-geral do Partido.

Neste contexto, defendeu Jerónimo de Sousa, «não há truques nem malabarismos que possam resolver o modelo de mão-de-obra barata, sem esse aumento generalizado de salários, essa revalorização do trabalho», insistiu, antes de lembrar que perante «muitos socialistas que nos questionam por que é que não nos entendemos com o PS, devolvemos a pergunta e lembramos que o desafio fica do lado do PS: acertem o nome “socialistas” com a política», concluiu.