Coimbra | Intervenção de Manuel Pires da Rocha no Comício em Coimbra

O Distrito de Coimbra precisa de deputados da CDU

21 Setembro

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Hoje somos, uma vez mais, deste lugar. As Escadas Monumentais começaram por ser o símbolo esmagador do camartelo salazarista, que nos anos de 1950 destruiu a Alta dos salatinas e expulsou para sempre os seus moradores. Na Alta instalava-se nesses dias a Universidade do fascismo, uma máquina poderosa de fabricar líderes, como hoje pateticamente se diz, de um país de figurões. Mas a História nunca é como a desenham os governantes, por mais fortes que se julguem ser, mas sim como a desenham os povos, umas vezes assim, outras de outra maneira. Por isso é que estas escadas foram caminho dos protestos dos estudantes que, em 1969, por aqui mesmo, seguiram empunhando cartazes que gritavam intenções como “democratização do ensino” e reivindicações como “estudantes no governo da Universidade”. Cinco anos mais tarde chegou a Revolução de Abril e durante muitos anos estes muitos degraus viriam a ser protagonistas permanentes da democracia, na mais monumental das telas em que a liberdade escreveu palavras de ordem da luta democrática e, outra vez como em 1969, protestos estudantis contra as propinas e o ataque dos governos da direita ao ensino superior.

As Escadas Monumentais são hoje património da Humanidade – e são-no pelas pedras que são e por serem memória dos passos democráticos que as pisaram. E hoje são o palco deste comício no qual, de uma só vez, recusamos o passado de ignomínia, celebramos o presente das nossas lutas e lançamos pontes para o futuro da governação democrática, patriótica e de esquerda do nosso país. Estamos aqui para dizer a toda a gente que o Distrito de Coimbra precisa de deputados da CDU.

Nestes dias andamos nas ruas todas do Distrito a falar com toda a gente. Remamos com os nossos argumentos, às vezes contra uma maré de falsidades, criativas sondagens onde se inventam empates técnicos, indecisos e tendências, como nas revistas da moda; lutamos contra o poder do dinheiro que paga mil vezes mil mentiras e as serve de mão beijada aos consumidores de ilusões. Nestes dias encontramos todos os descontentes, os que não acreditam em nada nem em ninguém por já terem sido enganados uma, duas, três vezes pelos três protagonistas do “arco da governabilidade”. PS, PSD e CDS podem hoje orgulhar-se, vergonhosamente, de haver cidadãos que renunciam ao direito – ao dever – de participar na vida política do seu país por associarem a vida política e os seus protagonistas visíveis a todas negociatas, a todas as ofensas, a todos os dramas das nossas vidas. Mesmo assim, muitos destes queixosos de rua dos dias da campanha não conseguem desenredar-se dessa teia de preconceito e de medo que lhes força o voto com a ameaça da perda do posto de trabalho, tantas vezes único sustento de uma vida equilibrada entre o ter muito pouco e o não ter nada.

Dentro dessa tal teia de preconceito e medo há quem tenha percebido que, tal como tudo o que é da natureza, também os chamados “políticos” não são todos iguais. Sabem-no os pescadores da arte xávega de Mira, de quem a deputada comunista Rita Rato levou a voz ao Parlamento. E sabem-no os empresários e os trabalhadores dos Estaleiros Navais do Mondego, cujas preocupações chegaram a Bruxelas nas vozes dos deputados da CDU no Parlamento Europeu. E os despojados do Ramal da Lousã, os camponeses do Baixo Mondego que exigem a conclusão da Obra Hidroagrícola, os ameaçados pela exploração do caulino, os micro, pequenos e médios empresários da Baixa de Coimbra, os utentes das urgências dos Covões – todos aqueles que viram as suas vontades levadas à tribuna da Assembleia da República pela voz de deputados da CDU. Muitos não sabem que Coimbra há muito não elege deputados da CDU. Por isso é fundamental que juntemos à explicação do embuste da eleição do primeiro-ministro, a urgência da eleição de deputados da CDU. Cada deputado da CDU é mais um deputado a favor da dignidade, da produção nacional, do ensino público de qualidade, do Serviço Nacional de Saúde, do emprego com direitos, da valorização das reformas e pensões, de 1% do orçamento de estado para a Cultura, dos serviços públicos, e de tudo aquilo que já conseguiu ser conquista da democracia e é hoje campo de batalha.

Sabemos que a tomada de consciência é a mais difícil das conquistas de quem foi ensinado a acreditar que os ricos serem ricos e os pobres serem pobres é coisa tão natural como o sol nascer todos os dias. Alguns nem cuidarão de ver que as crises que o capitalismo inventa são o maná dos banqueiros e dos donos dos grandes grupos económicos. E que à sombra de tanta riqueza milhões de trabalhadores, micro, pequenos e médios empresários, desempregados, reformados e pensionistas contam todos os tostões. E que esses poucos tostões são a razão das fortunas obscenas dos Amorins, dos Belmiros, dos Ulriches, dos Mellos, dos Champalimauds, que empregam os Portas, os Gaspares, os Constâncios, os Coelhos, as Albuquerques para que, nos governos da Nação, abram aos grandes e aos muitos grandes exploradores as portas das nossas casas e nos roubem os salários, os direitos, a alegria, a companhia dos nossos próprios filhos de partida para as novas Franças e as Alemanhas.

Quando dizemos “Emprego, Direitos, Produção, Soberania” não estamos no campo das utopias. Portugal já foi tudo isto, tudo aquilo que resumimos na expressão Conquistas de Abril. Haverá quem, hoje, olhe para trás com desânimo, tão grande foi o retrocesso cavado pelos governos do PS, do PSD e do CDS. Mas, camaradas e amigos, desânimo é que não! Muitos dos que aqui estão viveram os tempos de construção da revolução de Abril e provaram já o sabor bom de um país em construção – o país sonhado e depois concretizado por muitos dos jovens que desceram estas escadas naqueles dias de 1969. Às vezes avançamos, às vezes recuamos. Mas visto de longe, a contar do tempo em que a dignidade começou a ser razão de luta, o traço da nossa História é uma linha a favor da liberdade, da emancipação, do progresso, da felicidade. O aqui candidato Jorge Seabra resumiu muito bem essa linha ascendente num discurso que proferiu na Assembleia Municipal de Coimbra em 25 de Abril deste ano de 2015. Disse assim: “a imobilidade e a ausência de alternativa não existem. Nada mais errado do que pensar que a Terra não mexe porque não se sente mexer. Apenas quem não tem uma perspectiva temporal e ignora o Processo Histórico pode acreditar que as classes dominantes são imutáveis. Napoleão imperador não foi o regresso da aristocracia absolutista nem a derrota da Revolução Burguesa. Foi apenas um dos contraditórios inícios da sua afirmação e vitória. A queda de Ícaro não impediu a aviação. Foi, pelo contrário, o seu mítico começo”.

Nas últimas eleições legislativas foi a CDU a força política de esquerda que mais perto esteve de eleger um deputado no Distrito de Coimbra. Podem agora as sondagens berrar as tão improváveis vitórias da direita; podem os estudos de opinião seduzir o eleitor amedrontado para o voto útil num PS camaleão. Importa dizer a toda a gente que os votos pela alternativa democrática são precisos na candidatura que hoje propõe a alternativa, porque luta por ela todos os dias da sua existência.